Por Wilson de Carvalho

Nesta fase de pandemia, revendo meu arquivo, encontrei dois cadernos do Jornal dos Sports em homenagem aos 50 anos do Maracanã, que hoje, completa 70. Duas publicações históricas à altura dos anos de ouro do futebol e do jornalismo. Comando de Washington Hope, coordenação de José Antonio Gerhem, edição e textos de minha autoria e do saudoso Roberto Porto. Tive também a honra de escrever o editorial “Meio Século de Paixão”. Destaque para o Flamengo, maior campeão do Maracanã, o vascaíno Expresso da Vitória, a Máquina Tricolor, o Santos de Pelé, que fazia com o Botafogo, de Garrincha, o maior clássico do futebol mundial. O Rei dizia que sua maior alegria era a mesma do povo: ver Garrincha jogar. Outro destaque foi o então grande América, de Eduzinho, que fazia o Clássico da Paz com o Vasco. Além de ter vingado o Brasil do vexame de 50, ao vencer a mesma seleção uruguaia campeã do mundo no Maracanã, em amistoso em Montevidéu.

Nos dois cadernos, um verdadeiro show de reportagens, curiosidades e histórias contadas pelos próprios monstros sagrados do futebol mundial, tais como Leônidas, Belini, Manga, Barbosa, Ademir Menezes, Zizinho, Evaristo de Macedo, Nilton Santos, Zico, Eduzinho, Roberto Dinamite, Rivelino, Paulo César, Gerson, Zagalo, Junior, Leandro. Entre muitos outros como Didi e Jair da Rosa Pinto, que se declaravam autores do primeiro gol da história do Maracanã. Jair justificava ter feito o gol em jogo oficial…

E quando nos referimos ao Jornal dos Sports, um nome não pode deixar de ser citado: o de seu fundador Mário Filho. Tão importante era o JS que, além de maior diário esportivo da América do Sul e melhor escola de jornalismo, promovia todos os esportes no Estado do Rio. Além de eventos para a juventude como os Jogos da Primavera e Jogos Infantis, de fama internacional e semelhantes às Olimpíadas. Por tudo isso, o Maracanã passou a se chamar Estádio Mário Filho. Pena que após a sua morte, o único filho fracassou na administração e, pior, perdeu o jornal para verdadeiros aventureiros que se sucederam, deixando o futebol saudoso até hoje, do seu maior incentivador. E saudoso também do então maior estádio do mundo, o gigante que assustava, transformado por políticos picaretas em um grande ginásio. Sem o mínimo de identificação, a não ser no nome, sem nada a ver com o ex-templo do futebol. Em mais uma tragédia do nosso caótico Brasil.


WILSON DE CARVALHO – Jornalista e escritor, colunista do Jornal Tribuna da Imprensa Livre, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Três livros publicados, cobertura de cinco Copas do Mundo, campeão de prêmios de reportagens esportivas no Estado do Rio, nos anos 80 e 90. Entre os grandes jornais, só não trabalhou em O Globo. Um dos principais ícones da crônica esportiva e do Jornal dos Sports e O Dia, veículos onde ganhou a maioria dos prêmios, entre eles, duas Bolas de Ouro, e em inúmeras séries de reportagem, tais como “Máfia da Loteria”;  “Roubo da Jules Rimet”; “No futebol não tem mais ninguém bobo” e “Pelé não teme o dia em que deixar de reinar e voltar a ser Edson”.