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Enfrentamento ao racismo estrutural na política fluminense
Em Duque de Caxias, Dra. Fernanda Dentista, como a vereadora é conhecida, ocupa uma das 3 vagas ocupadas por mulheres, que conta com 29 vagas no total. (Divulgação)
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Enfrentamento ao racismo estrutural na política fluminense

Por Herédia Alves

“Quando uma mulher se movimenta, toda a sociedade se movimenta com ela” (Angela Davis)

A Comunidade Parque das Missões – Conjunto Habitacional do Parque das Missões, construída nos anos 90 pelo então governador Leonel Brizola, com o objetivo de reassentar famílias removidas durante a Construção da Via Expressa João Goulart, se consolidou as margens da Linha Vermelha.

Nos anos seguintes, de forma precária, várias famílias iniciaram uma ocupação as margens do Rio Meriti, na ponta da Baía da Guanabara até a Rodovia Washington Luís, o que contribuiu para o crescimento desordenado do espaço. A Comunidade que ocupa a região vive em extrema vulnerabilidade social, já que conta com ausência de infraestrutura urbana, deficiência de transporte público e condições ambientais desfavoráveis, tendo em vista estar entre duas grandes vias expressas e a beira de um rio, onde são despejados esgoto e resíduos sólidos, que fazem a população local sofrer com enchentes e erosões.

A Associação de Moradores, promoveu uma ação de combate ao COVID-19, que contou com distribuição de máscaras e conscientização sobre as medidas de distanciamento e higienização. A ação contou com o artista grafiteiro Klebert Black que deu vida as paredes da comunidade, com um grande painel grafitado que pode ser visto da Linha Vermelha.

Em um ato de resistência no enfrentamento ao racismo estrutural institucional que marca a política fluminense e na busca por direitos básicos, em 2020 a comunidade ajudou a eleger a vereadora Fernanda Costa em Duque de Caxias.

Eleger uma mulher negra, oriunda da favela representou uma importante vitória da Democracia, bem como pressupôs um desafio ao racismo e ao patriarcado, principalmente na baixada fluminense, que apesar de contar com parte das cidades mais populosas do Estado, não elegeu nem 10% de mulheres ao cargo de vereadora, deixando bem claro que na política existem fortes traços no recorte de classe, gênero e raça.

Em Duque de Caxias, Dra. Fernanda Dentista, como a vereadora é conhecida, ocupou uma das 3 vagas ocupadas por mulheres, que contava com 29 vagas no total, já em Nova Iguaçu cidade vizinha nenhuma mulher foi eleita. Mulheres negras, nascidas em comunidades, trazem pautas específicas para a política, já que vivenciam os impactos da necropolítica estatal nos mais diversos níveis, o que nesse caso ultrapassa pautas machistas e racistas. Além da discriminação por ter nascido mulher preta periférica, o racismo estrutural traz disfarçado em suas múltiplas dimensões, a cruel criminalização aos familiares de pessoas em situação de privação de liberdade, desqualificando o princípio da intranscendência da pena.

A luta contra as desigualdades e a voz de quem vivencia as atrocidades características das favelas tem mais legitimidade quando pautada por quem vivenciou a dor de ser mulher preta e moradora de comunidade. Nos primeiros 6 meses de mandato a vereadora, vêm lutando pelo fornecimento de serviços básicos para a população local, que já conta com uma área de lazer, uma unidade básica de saúde e estuda a viabilidade de inclusão de polo do FUNDEB, visando qualificar a mão de obra dos jovens que vivem na localidade.

A parlamentar que a comunidade elegeu traz em seu mandato representatividade e esperança, para as centenas de crianças que vivem na localidade e veem naquela figura que olham com orgulho, uma inspiração para o futuro.

Uma mulher preta que estudou, se capacitou e rompeu os paradigmas da política da branquitude, se rebelando contra um sistema que criminaliza os pretos periféricos e que não tolera sua presença em espaços de poder.


HERÉDIA ALVES é a titular da coluna, advogada Criminalista e do Terceiro Setor, especialista em Direito Público, diretora de Projetos do Instituto Anjos da Liberdade, presidente Estadual do Instituto Nacional de Combate a Violência Familiar, advogada da Associação de Moradores da Vila Mimosa, membro da Comissão de Direitos Humanos OAB/ RJ.

WILLIAM DE OLIVEIRA – Ativista, Mobilizador Social e Colunista do Jornal Tribuna da Imprensa Livre; Presidente do Coletivo MISSÃO ROCINHA, graduando no Curso de Investigação Forense e Perícia Criminal

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