Por Kakay –

 “Uso a palavra para compor meus silêncios.” (Manoel de Barros, O apanhador de desperdícios)

“É a economia, estúpido!”

Em 1992, o diretor de campanha do Bill Clinton produziu essa pérola no debate contra George Bush. As eleições se deram logo depois da recessão americana dos anos 90 e o candidato que priorizou o debate econômico, Bill Clinton, ganhou do seu adversário.

Na realidade, essa é uma reflexão que serve para o momento grave pelo qual passa o país, às vésperas de uma eleição presidencial. É claro que existem sempre múltiplos fatores que influenciam uma votação. Recentemente, em 2020, o presidente Donald Trump perdeu a reeleição, mesmo com a economia dando sinais de melhoras depois de um período duro, muito em função da completa incompetência no trato da pandemia, mas também pelo seu desprezo pelas tensões raciais e pelo seu jeito histriônico e debochado que ressalta seu caráter repulsivo.

O Brasil passa por um momento ímpar. Bolsonaro é, assumidamente, e com certo ar de empáfia, um homofóbico, racista, apoiador da tortura, cultor da morte, a favor da violência –inclusive contra as mulheres– e um predador da cultura, da ciência, da saúde, das artes e da educação. Enfim, um presidente que envergonha o país aos olhos da comunidade internacional, que é absolutamente raso, inseguro e ignorante.

Sem medo de errar, pode-se afirmar que é um homem muito aquém das responsabilidades do cargo que ocupa. Isso sem falar que durante todo seu governo flertou com a ruptura institucional, desprezou os poderes constituídos e tentou humilhar e constranger ministros do Poder Judiciário. Fez todos esses absurdos se jactando da sua estupidez.

Lembro-me do ministro Barroso, “A liberdade de expressão não pode se transformar em uma arma contra instituições”.

Mas a verdade é que praticamente nada atrapalha a imagem já sedimentada do presidente. Na realidade, é possível constatar que a estratégia do governo é reforçar essa figura tosca, violenta e vulgar. Na visão dos coordenadores bolsonaristas, fica muito claro, o que faz a ponte do governo com os seguidores é exatamente a atitude escatológica. Qualquer traço humanitário afastaria a hipótese de identidade com o líder e seus liderados.

A necessidade de reforçar a barbárie e de estimular os abusos é uma maneira de incentivar essa relação permeada pela extrema vulgaridade. Importante ressaltar que sequer a polêmica sobre pedofilia, ou a agressão brutal aos católicos e à padroeira do país, Nossa Senhora Aparecida, ou o deboche cruel com os nordestinos em manifesta apologia ao crime, nada abalou a cega submissão dos bolsonaristas ao líder. Enfim, quem acompanha com cuidado o desenrolar do governo Bolsonaro tem a absoluta convicção de que investir nessas práticas teratológicas é o que mantém a sua base.

O que eu proponho é um seguir a vida sem ser pautado por toda essa mediocridade. Ganhando ou perdendo, não é só o Brasil que precisa respirar. Penso que um número enorme de pessoas dignas precisa respirar e seguir vivendo se o Brasil optar pela barbárie. Nós só temos uma saída: resistir. Estamos todos com o papel de tentar salvar o país. A questão simples que nos apresenta é que o fascismo não tem mesa, não tem conversa e não tem empatia. Logo, somos a resistência possível. Hoje, parafraseando o marqueteiro do Clinton, eu diria:

“É o estúpido, estúpido!”.

ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o Kakay, tem 61 anos. Nasceu em Patos de Minas (MG) e cursou direito na UnB, em Brasília. É advogado criminal e já defendeu 4 ex-presidentes da República, 80 governadores, dezenas de congressistas e ministros de Estado. Além de grandes empreiteiras e banqueiros. Publicado inicialmente no Poder360.

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