Por Amirah Sharif –

Temos lido alguns artigos e pesquisas sobre confinamento de animais domésticos na pandemia e uma questão ficou evidente: muitas pessoas têm recorrido aos bichinhos de estimação para ajudá-las a enfrentar esse momento difícil, diferente e tão especial.

Em todo o mundo, a demanda por adoção a animais de estimação aumentou. É sabido que os pets proporcionam benefícios à saúde de seus humanos, desde a redução da pressão arterial até menores níveis de estresse. Mas, o que precisamos averiguar é como esses animaizinhos estão reagindo às restrições impostas pela pandemia do Covid-19 e o que podemos fazer para seu bem-estar.

A maioria dos tutores de cães e gatos revelou que os animais de estimação lhe proporcionaram companhia e apoio emocional. No entanto, devido ao confinamento, os próprios tutores acreditam que houve uma piora na qualidade de vida de seus bichinhos.
Percebe-se que as pessoas que têm animais de estimação se sentem menos solitárias do que as que não possuem. Mas é aí que precisamos ter muito cuidado, para não adotar um cãozinho, gatinho ou outro bichinho apenas para preencher nosso vazio, para ser nosso calmante ou antidepressivo. Não! Isso não! Animais têm sentimentos, emoções e precisam ser protegidos.

Abandonos

É comum também vermos, lamentavelmente, durante a pandemia, pessoas(?) abandonarem seus pets, porque perderam o emprego, precisaram se mudar ou qualquer outra incapacidade de cuidar e, então, as ruas ganham mais uma criaturinha que não entende o que está acontecendo e o porquê de estar ali sozinha, lançada à própria sorte.

Um animal, qualquer animal, não é uma coisa ou mercadoria que se possa dispor e devolver por não estar satisfeito. Os animais têm senciência (capacidade dos seres de sentir sensações e sentimentos de forma consciente), estabelecem vínculos afetivos e, uma vez introduzidos em um lar, não dá para descartá-los sem provocar sofrimento.

O que poderia ser feito para que os animais não fossem abandonados e jogados às ruas? Quais medidas os governos poderiam adotar?  E nós? Podemos fazer alguma coisa para ajudar? Se fosse oferecido um desconto no pagamento de IPTU aos proprietários de imóveis que acolhessem uma determinada quantidade de animais de rua? Haveria alguma melhora? E de que modo os fabricantes de ração poderiam participar? Seria possível haver campanhas na mídia para que um pet companheiro não fosse abandonado? Vocês têm alguma ideia? Se têm, me enviem para o e-mail: asharif@bol.com.br. Vamos, juntos, colaborar para diminuir e coibir o abandono de animais.

Crianças e pets

Verificou–se que os pets estão ajudando as crianças a enfrentarem o desafio do isolamento social durante a pandemia. Antes, elas iam para a escola, aulas de natação, informática, balé, enquanto seus bichinhos ficavam em casa, às vezes sozinhos, aguardando o momento do passeio com alguém disponível e disposto. Agora é diferente. Todos estão confinados.

Há um estudo muito interessante, feito nos Estados Unidos, sobre a interação de crianças com seus pets. Ele apontou que a intensa relação bichinho-criança cria um vínculo afetivo muito forte entre ambos. O pet se sente protegido e fica feliz por ter uma companhia e não um “dono, proprietário” e a criança, por ter um companheiro peludo, começa a querer buscar conhecimento para cuidar dele. É a mágica dos sentimentos puros, amor, cuidado e proteção mútua.  O estudo observou que houve uma significativa diminuição da ansiedade e estresse entre crianças de quatro a 10 anos que interagiam com pets.

Usando esse estudo como base, também devemos deixar claro que não podemos transformar nossos pets em remédios para a pandemia. Não! Não são remédios! São instrumentos para que possamos evoluir e trabalharmos os sentimentos bons que temos, como amor, afeto, carinho, cuidado com o outro e com o que é diferente.

Com afeto

Vale lembrar que muitas das crianças que antes do Covid-19 faziam o dever de casa de modo rotineiro e rápido, passaram a ter, com o ensino remoto, apoio e maior atenção dos pais nas tarefas da escola. Acreditamos que esse ambiente com maior afeto também é um incentivo, além de exemplo, para que as crianças dispensem mais atenção e dedicação aos seus bichinhos. O convívio mais próximo pode ser, sim, prazeroso e respeitoso, quando o amor é praticado em via de mão dupla.

Como apontamos, um animalzinho dentro de casa contribui para que a criança tenha responsabilidade. Deve ficar claro que essa companhia peluda é para toda a vida e não apenas para esse momento de isolamento social. Um pet requer cuidados. O local onde ficam deve ser higienizado; o pote de água deve ser limpo e abastecido diariamente; passeios devem em horários de menor fluxo; as patinhas não devem ser borrifadas com álcool, e sim lavadas com água e sabão e secas, ao fim de cada passeio; a alimentação deve ser adequada e não devemos dividir o que estamos comendo com eles, mesmo que isso possa parecer impossível.

Enfim, viver é isso: trocar, ajudar e permitir ajuda, refletir, sentir, ficar alegre e triste, animar e desanimar, parar, prosseguir, caminhar, descansar, evoluir. Com companhia, fica mais fácil. Na companhia de um peludo, fica intenso e incrivelmente maravilhoso!!! E nós merecemos o melhor.


AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br