Por Sérgio Ricardo

Rio de Janeiro ganha uma Universidade do Mar com campus avançados na Ilha de Brocoió e em Maricá.

A grande novidade no Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6) e do Dia Mundial do Oceano (8 de junho) de 2022 é a implantação da Universidade do Mar (UniMar) que terá um campus avançado avançado na Ilha de Brocoió (Baía de Guanabara) e outro campus no município de Maricá.

O projeto da UniMar nasceu em 2018 a partir de uma parceria firmada entre a Faculdade de Oceanografia da UERJ, o Movimento Baía Viva e a Associação de Moradores da Ilha de Paquetá (MORENA) e atualmente conta com o apoio de 7 reitorias de universidades públicas federais e estaduais e mais de 80 outras instituições apoiam a implantação da Universidade do Mar.

Este ano, além de estarmos em plena Década do Oceano e da Restauração dos Ecossistemas (ONU, 2021-2030) também se celebra os 30 anos da realização da Conferência internacional ECO 92, na cidade do Rio de Janeiro, onde a “despoluição” da Baía de Guanabara foi a principal promessa das autoridades públicas brasileiras que – infelizmente – ainda hoje não saiu do papel!

Até hoje um conjunto de grandes obras de saneamento básico estão paralisadas ou incompletas. O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) foi iniciado em 1995 e o PSAM (Programa de Saneamento dos Municípios) teve seu início em 2001, ambos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas nenhum deles até hoje foi concluído, o que tem como resultado negativo um cenário com dezenas de praias impróprias ao uso balneário, assim como todas as lagoas cariocas encontram-se num quadro de elevado grau de degradação ambiental.

A logomarca do PDBG à época (1995) era um boto cinza nadando nas águas da Baía de Guanabara tendo ao fundo o morro do Pão de Açúcar: contraditoriamente, gastou-se mais de R$ 10 bilhões de reais no PDBG e no PSAM e na atualidade a espécie boto cinza – símbolo ecológico do Rio de Janeiro – está ameaçada de extinção, assim como outras espécies marinhas (tartaruga verde, cavalo marinho e várias espécies de peixes). Na década de 1990 existiam cerca de 800 botos na Baía de Guanabara e atualmente são apenas 30 indivíduos desta espécie marinha!

Os pescadores artesanais estão entre as categorias mais empobrecidas do estado por causa da intensa poluição por esgotos, lixo, óleo e poluentes industriais que vem, além de ameaçar a vida marinha, vem afetando a qualidade ambiental dos ecossistemas, a saúde coletiva e a economia (turismo, pesca etc) já que a grande vocação do Rio de Janeiro é para a Economia do Mar (Economia Azul, ONU).

A Universidade do Mar (UniMar) tem como um dos seus objetivos estratégicos apoiar os municípios na formulação de políticas públicas nas áreas do saneamento ambiental, gestão do lixo urbano, restauração florestal, proteção da biodiversidade, apoio à pesca artesanal e educação ambiental pelo viés do fomento à formação de uma Cultura Oceânica (UNESCO).

FALTA CONCLUIR A CESSÃO DE USO DA ILHA DE BROCOIÓ PARA A INSTALAÇÃO DEFINITIVA DO CAMPUS AVANÇADO DA UERJ NA ILHA DE BROCOIÓ (Baía de Guanabara)
Desde setembro de 2021, tramita na Secretaria de Estado da Casa Civil (SECC) um processo administrativo de autoria da Reitoria da UERJ visando a Cessão de Uso da Ilha de Brocoió, situada no Arquipélago de Paquetá, para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro instalar o campus avançado da Universidade do Mar. No entanto, até hoje este ato administrativo não foi assinado pela SECC. Em função disso, em encontro realizado no início de maio en Paquetá, organizado pela MORENA, a direção da UERJ informou à população local que alugaria um espaço na Ilha (casa) para provisoriamente – enquanto não é liberado o uso da Ilha de Brocoió pelo governo do Estado- instalar a sede da UniMar até que a SECC finalmente seja assinado o termo de Cessão de Uso da Ilha de Brocoió para a UERJ.

Ilha de Brocoió, o elefante branco que poderia ajudar na crise do Rio
Palácio de Brocoió, Rio de Janeiro. (Aline Massuca/Metrópoles)

Também está sendo articuladas junto à Capitania dos Portos (Marinha do Brasil) a retirada de uma embarcação abandonada há mais de 10 anos na orla de Paquetá, um antigo Jumbocat que virou lixo náutico e está desde então abandonado ao lado da Estação de Barcas. Com a retirada do depredado Jumbocat pretende-se fazer a transferência para Paquetá do 1o. Navio Oceanógrafico da UERJ, inaugurado em janeiro de 2020 pouco antes do início da pandemia COVID-19, que encontra-se provisoriamente ancorado na Marina da Glória.

A Universidade do Mar também nasce com outra embarcação vocacionada às Pesquisas Oceânicas que é o Navio-Escola “Ciências do Mar” da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Niterói.

Em março de 2022, também foi assinada uma Carta de Intenções entre a Reitoria da UERJ e a Prefeitura de Maricá para a implantação de um campus avançado da Universidade do Mar naquele município da Região Metropolitana fluminense.

SÉRGIO RICARDO VERDE – Ecologista, membro fundador do movimento BAÍA VIVA; Gestor e planejador ambiental, produtor cultural, engajado nas causas ecológicas e sociais, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Membro do Conselho Estadual de Direitos Indígenas (CEDIND-RJ) pela organização GRUMIN presidida pela escritora Eliane Potiguara e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável (PPGPDS) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). www.baiaviva.com


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