Redação

O país deve se preparar para assistir a um grande desastre ambiental. A julgar pelos três anos e meio de bolsonarismo no poder, as perspectivas não são otimistas. Nem o período eleitoral serve para incentivar medidas de preservação do meio ambiente.

É essa a conclusão de um estudo das universidades de São Paulo (USP) e Duke, dos Estados Unidos. A pesquisa, publicada na revista científica Conservation Letters em 2018, avaliou a relação entre eleições e desmatamento entre 1991 e 2014, quando houve sete eleições gerais e seis municipais.

COMO EXEMPLO – O trabalho analisou a Mata Atlântica, mas os resultados, segundo os autores, podem ser estendidos à Amazônia e ao resto do país. Foram analisados, afinal, 2.253 municípios dos sete estados do Sul e do Sudeste, onde a sociedade civil organizada costuma fazer pressão por medidas de controle ambiental.

Mesmo assim, uma das principais conclusões da pesquisa foi que, naqueles 23 anos, houve em média um desmatamento adicional de 3.652 hectares nos anos de eleições gerais — para presidente, governadores, deputados estaduais, federais e parte dos senadores — e de 4.409 hectares nos pleitos municipais.

As condições criadas pela disputa eleitoral e a perspectiva de mudança de governo induzem o maior desmatamento. “Um fenômeno potencializa o outro”, diz a coordenadora da pesquisa, Patrícia Ruggiero. O toma lá dá cá do clientelismo e do populismo, portanto, prejudica o meio ambiente.

DA MESMA LEGENDA – O estudo também constatou que a destruição florestal aumenta nas eleições em que o partido do governador pertence à mesma coalizão do presidente da República e nos municípios em que prefeito e governador são da mesma legenda. A política partidária, a depender das alianças, pode funcionar em prejuízo do meio ambiente. Eis um alerta para os eleitores na hora de escolher os candidatos em outubro.

Quando o estudo foi feito, estava em curso uma redução na relação entre eleições e desmatamento, constatada pelos pesquisadores entre 1991 e 2014. A chegada ao Planalto do presidente Jair Bolsonaro em 2019, porém, agravou a degradação. “Com a eleição de Bolsonaro, o que se vê na área ambiental vai além do ciclo eleitoral”, afirma Ruggiero. Bolsonaro foi radical: desmantelou Ibama e ICMBio, responsáveis pela preservação do meio ambiente.

SEM REPRESSÃO – O volume de multas caiu, o desmatamento aumentou, sem que organismos municipais e estaduais do meio ambiente pudessem fazer alguma coisa contra.

Resultado: em três anos de governo bolsonarista, da posse a 31 de dezembro de 2021,o desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% em relação à média do triênio anterior, de 2016 a 2018. Ainda falta contar a destruição que vem por aí causada pela corrida contra o tempo de garimpeiros e madeireiros ilegais. Temerosos com a volta dos controles caso Bolsonaro seja derrotado, já puseram para funcionar suas motosserras e máquinas de devastação.

Ainda que a região da Amazônia fique intransitável na época das chuvas, entre janeiro e maio, o desmatamento no período foi de 3.360 quilômetros quadrados, o maior em 15 anos nesses meses, de acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). É sinal de que as próximas estatísticas refletirão ainda mais devastação. Mas desta vez, caso Bolsonaro perca, as eleições representarão provável queda no desmatamento.

Fonte: O Globo


Tribuna recomenda!