Redação

Luciano Huck já tinha dado todos os sinais de que não seria candidato a presidente. Sua saída da corrida eleitoral não pegou de surpresa os operadores do tal centro político, mas vai obrigar esse grupo a aceitar algumas verdades sobre o cenário da eleição de 2022.

O fato de o nome do apresentador ter circulado como opção por tanto tempo mostra que as elites partidárias ainda não traçaram um caminho para fabricar uma terceira via para a corrida presidencial. Esses políticos insistem que há espaço entre Lula e Jair Bolsonaro, mas não apresentam nomes com potencial para superar pelo menos um dos dois.

ARENA DOMINADA – Huck procurava brecha numa arena eleitoral dominada por dois nomes já conhecidos do eleitor. Dirigentes dos partidos de centro-direita e centro-esquerda contavam com a exposição do apresentador na TV para chegar à corrida com um nome que fosse popular o suficiente, mas também parecesse uma novidade.

O investimento nessa candidatura partia de um cálculo sobre o potencial eleitorado da terceira via. Entusiastas acreditavam que Huck teria votos na direita (com um plano liberal e acenos ao empreendedorismo) e na esquerda (com uma plataforma de justiça social). Na última pesquisa do Datafolha, o apresentador teve 4% no primeiro turno —o que sugere que a conta não fechava.

CIRO E DORIA – Os principais remanescentes são Ciro Gomes (PDT), que busca um discurso de oposição aos dois protagonistas, e João Doria (PSDB), que gostaria de ser uma alternativa de direita ao atual presidente. O desempenho fraco deles e de outros candidatos que reivindicam a vaga reforça a impressão de que o território já está ocupado por Lula e Bolsonaro.

O consórcio de centro parece negociar a propriedade de um espaço que não existe ou que não é grande o suficiente para abrir caminho para o segundo turno. Ao tratar Huck, Doria, Ciro, Luiz Henrique Mandetta, Sergio Moro e João Amoêdo como apostas intercambiáveis, esse grupo mostrou que a terceira via é só um objeto de especulação eleitoral.​


Fonte: Folha de SP