Por Lincoln Penna

O Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP) promoveu, juntamente com o Brasil 247, o Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (SENGE), o Instituto Zuzu Angel (IZA) e o Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON), um ato em defesa da democracia, dos direitos da sociedade brasileira. O ato foi realizado no foyer do Teatro Casa Grande no dia 9 de abril. O foco na questão democrática é mais do que oportuno e urgente, dada a conjuntura política em que vivemos. Afinal, as manifestações antidemocráticas nesses últimos tempos não podem ser ignoradas.

Não basta apenas dar suporte às instituições políticas próprias de um estado democrático de direito. Necessário se torna a ampliação da democracia que temos, ainda limitada para um grande contingente de nosso povo. Foi com o objetivo de fomentar o desejo de que construamos uma verdadeira democracia social, que o encontro no Casa Grande se realizou.

Nesse ato/manifestação estiveram presentes na mesa de debates Nilmário Miranda, Amir Haddad, Dulce Pandolfi e Hildegard Angel, com a abertura de Francis Bogossian e moderação de Lincoln Penna. Mesa de debates que juntamente com cerca de cem participantes do evento lá estiveram para nos ajudar a refletir e propor caminhos com vistas a novos horizontes que a nação brasileira tanto necessita, mais do que nunca nesse atual momento.

Se a democracia que temos é insuficiente para incorporar parcelas do povo desprovido das condições básicas para o pleno exercício da cidadania e para enfrentar às ações visando sua supressão; sem ela a tarefa de dar continuidade à construção de uma sociedade democrática fica ainda mais difícil.

Daí, a imperiosa necessidade de defender a democracia que temos diante dos ataques continuados de forças que a renegam na prática. Sua preservação implica numa barreira importante para não oferecer oportunidades para o assento de um regime que venha a tornar desnecessária ao seu funcionamento, haja vista os constantes ataques às instituições políticas democráticas.

O povo brasileiro carece de muitas coisas, a despeito de viver  num país rico em termos dos recursos naturais e minerais, sem contar a sua capacidade inventiva de sobreviver não obstante as adversidades que se acumulam ao longo de sua vida. Todavia, as condições para reverter esse quadro, cujas gerações atuais herdaram de um passado colonial, neocolonial e escravocrata, estão dadas. A começar pela progressiva identificação dos agentes que mantêm essa situação de descalabro exemplificado por uma profunda desigualdade social.

A revolução social que venha a modificação as relações sociais entre nós se encontra hoje dadas, mais do que em outras ocasiões de nossa história. Como fazer para que reunamos as condições subjetivas a exigirem ações que as tornem viáveis em termos de superação do atual quadro nacional, de maneira a ensejar as transformações sociais que velhas gerações sonharam em pôr em prática eis uma questão a ser enfrentada consciente e corajosamente.

O título do referido evento é  uma convocação para que possamos dar seguimento à construção de uma democracia que possamos chamá-la de nossa. Esperança que embala muita gente, mesmo os incautos que são levados a se refugiarem em correntes que existem para infundir falsas expectativas, através do emprego de seduções de cunho aparentemente fundadas em credos religiosos.

Por sinal, o vocábulo democracia tem sido usado muitas vezes para ludibriar a fé do povo, algo que hoje em dia tem ficado à cargo de instrumentos midiáticos com vistas à difusão das conhecidas “Fake News”. São expedientes que objetivam a distorção de realidades.

Combater os falsos profetas, os que se travestem de democratas ocasionais, faz parte do desmonte de uma engrenagem que já custou caro à democracia em nosso passado não tão remoto assim.

Antiga manifestação popular em defesa da democracia no Brasil. (Arquivo Nacional)

Mesmo os ideólogos mascarados de democratas têm experimentado a esperteza do povo, tão massacrado que desconfia de gestos aparentemente solidários. Contudo, esses oportunistas lançam mão de apelos enganosos para se locupletarem com base na boa fé popular, cujo repúdio precisa ser amplamente manifestado em nome dos valores autênticos restrito às convicções que nada tem a ver com as decisões políticas que dizem respeito às necessidades do povo.

Responder a essa engrenagem que não surgiu por acaso já que faz parte como engrenagem que é de um projeto político para anestesiar o ser humano que enfrenta em seu cotidiano as frequentes dificuldades para sobreviver dignamente é mais do que necessário.

E esse desmascaramento tem a ver com a ideia de uma revolução social que começa com a conscientização do povo, sua organização independente e, por fim, a capacidade de mobilizar os seus legítimos interesses.

O ato do Casa Grande é um convite aos verdadeiros democratas que não suportam mais viverem a assistir a violência instalada de um estado fatiado pela corrupção dos agentes que deveriam coibir com inteligência, tirocínio e compromisso com o cidadão, a criminalidade crescente nos grandes centros metropolitanos, principalmente.

Essa realidade foi exemplarmente representada nas falas das deputadas Elika Takamoto, Dani Balbi, do ex-parlamentar Gilberto Palmares e do ex-ministro de Ciência e Tecnologia do primeiro governo Lula, Roberto Amaral, todos compromissados com a democracia ampliada, a ressaltar especialmente a presença dos pais de Marielle Franco, Antônio e Marinete. Presenças que simbolizaram a imperiosa urgência de dar consequência ao lema que se impôs às forças democráticas, qual seja, a União, Reconstrução e Transformação. Consolidada a unidade, restaurando o funcionamento do aparelho de estado resta enfrentar os desafios para efetivarmos as transformações no país.

No contexto de um regime baseado na busca incessante da lucratividade, voltada para a gula de uma minoria na busca incessante da acumulação desenfreada, essa dupla violência, a das ruas, vielas, mocambos, favelas e comunidades desassistidas reflete apenas e tão somente o estágio a que chegou o capitalismo e a sua lógica da acumulação ampliada da usura.

Um grito de alerta é indispensável neste momento. Ele não precisa ser exasperado. Precisa, sim, ser fecundo a alcançar os nossos corações e mentes, sem o que iremos caminhar para um beco sem saída. É preciso revertermos essa situação que agride as nossas consciências cidadãs.

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LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON);  Secretário Geral do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

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