Por Jeferson Miola

Causaram enorme frisson as prisões do ex-ministro bolsonarista da Educação e dos charlatães bolsonaristas que traficavam influência e verbas do MEC em nome de deus e, claro, em troca de generosas propinas e de reluzentes barras de ouro.

Surgiram diversas hipóteses nos grupos de aplicativos, portais e outros ambientes de debate político.

A mais recorrente dessas hipóteses cogitava o “derretimento” eleitoral de Bolsonaro; a erosão vertiginosa da sua base social e, em decorrência disso, a viabilização de uma alternativa da mal apelidada terceira via – ou seja, uma outra candidatura anti-Lula que não a do Aberração do Planalto. A eterna busca das elites por um anti-Lula.

Antes das prisões do ex-ministro e dos pastores, Bolsonaro e o governo militar já colecionavam desgastes sérios devido à corrupção, inflação, carestia, preço dos combustíveis, descalabro econômico e ambiental, miséria e, ainda, aos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Philips.

Ciro Gomes e Simone Tebet chegaram a acreditar que “tomariam a vaga de Bolsonaro” na cruzada anti-Lula, e que um deles passaria ao segundo turno para enfrentar o ex-presidente com o apoio coeso das classes dominantes. Até o juiz-suspeito e um general dissimulado foram ressuscitados como possibilidades de vice em algumas fórmulas eleitorais especuladas.

Imagens: edição nº 1760 da revista Veja [jul/2002] e edição nº 2486 da revista IstoÉ [ago/2017]

A última pesquisa Datafolha [23/6], que coletou intenções de votos nos dias 22 e 23 de junho, auge da repercussão do escândalo no noticiário mostra, no entanto, que não é aplicável a hipótese de derretimento de Bolsonaro e de viabilização de outra opção anti-Lula que não o próprio Bolsonaro.

O Datafolha confirma a tendência eleitoral detectada sustentavelmente há mais de 18 meses. Uma tendência que evidencia um cenário cristalizado e, portanto, provavelmente irreversível, de disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro. E sempre com vitória folgada do Lula.

Um fator-chave que explica a perspectiva de vitória do Lula é a crise de legitimidade do governo militar e do regime de Exceção inaugurado em 2013 e aprofundado depois da derrubada fraudulenta da presidente Dilma, em 2016.

O inventário desta brutal violação da democracia é aterrador. Em poucos anos, o Brasil foi arrastado para a barbárie e o precipício fascista.

Apesar disso, contudo, e a despeito do desastre humanitário, nas pesquisas Bolsonaro continua com índices eleitorais ao redor de 30%, mesmo sendo quem ele monstruosamente é. Isso, aliás, diz muito sobre a tragédia da sociedade brasileira.

Juntos, todos demais inventos anti-Lula alcançam cerca de 13% das intenções de votos, que significam menos da metade do desempenho de Bolsonaro.

O último levantamento do Datafolha retrata exatamente este cenário: Bolsonaro preserva seu rebanho fiel e as demais candidaturas continuam estacionadas, ao passo que Lula avança de modo sustentável o patamar acima dos 50%, em claro sinal de vitória já no primeiro turno.

As classes dominantes prefeririam mil vezes não terem de assistir passivamente o desfile de Lula rumo à vitória em 2 de outubro sem poderem fazer alguma patifaria ou vilania para impedir o triunfo eleitoral dele.  Por isso, já se preparam para combater, inviabilizar e derrubar o futuro governo Lula.

A desmoralização do governo militar e o avanço da crise de legitimidade do golpe reduzem muito a eficácia do arsenal golpista do establishment contra Lula e a democracia. E deslegitimam sobremaneira os planos golpistas que as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas preparam.

A cada dia que passa vão se estreitando as margens de manobra das elites para alterarem os rumos da eleição e impedirem a vitória do Lula – salvo, claro, na hipótese do seu assassinato.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista, Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.


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