Por Miranda Sá –

Não custo de louvar um tuiteiro que me segue e mesmo adotando uma posição ideológica extremista que combato, faz críticas respeitosas aos meus textos, elogiando até as citações de filósofos antigos e modernos de tendência social-democrata. Escrevi outro dia sobre as contradições dialéticas citando Hegel e Marx, e este colega das redes sociais retuitou.

Este tratamento democrático não ocorreu com um tio bolsonarista da mulher do meu filho mais velho que se fez presente casa dele para o almoço que preparou para assistir a final do Flamengo e São Paulo, rubro-negros que somos.

O auto convidado é militar da reserva remunerada, e vinha sendo aproveitado em cargo civil pelo capitão Bolsonaro, acumulando salários. Para defender a “boquinha” exagera com um comportamento fascistóide que o colocaria entre os que queimaram livros na Alemanha Nazista, marchando com tochas diante de Hitler.

Falo de livros, porque vi-o passando a vista na estante da casa e examinando os dorsos, encontrou entre eles Darwin, Spencer, Voltaire (e até Platão, imaginem!); e disse em voz alta:  – “Pare que ler estes comunistas, meu sobrinho!”.

Imagino-lhe vendo a literatura que tenho como referência!…. Tenho Marx, Engel, Lenin e Trotsky e Rosa de Luxemburgo numa estante e, n’outra, “Escriti i dicorsi” de Mussolini, o Mein Kampf de Hitler e obras completas de Plínio Salgado. Sobre religião vou do Bhagavad Gita ao Talmud, dos evangelhos cristãos ao Alcorão.

Numa das visitas em minha casa – eu morava em Campina Grande na época -, agentes da ditadura de 1964 me surrupiaram 294 livros, entre os quais, mostrando a ignorância cívico-militar, levaram o “Nosso Homem em Havana” de Graham Greene, a história engraçada de um vendedor de aspiradores de pó….

Aprendi desde a infância a respeitar os conservadores, cuja seriedade no trato da coisa pública compensava uma ideologia parada no tempo. Foi o que ensinava o meu pai que adotava a doutrina positivista, defensora do progresso para alcançar a evolução da sociedade humana.

O Bolsonarismo, porém, nada tem de Conservador. Seu líder finge sê-lo e também fingidamente diz-se “de Direita”. Para se afirmar como condutor de massas, defende um ridículo anticomunismo herdeiro da “guerra fria”, mais de trinta anos após a queda do muro de Berlim; e ter agora o putinismo mandando na antiga URSS!

Para não faltar na contradição dialética dos extremismos, temos do outro lado os adoradores de Stálin lulopetistas, analfabetos que não leram o Relatório Kruschev mostrando-o como ditador sanguinário; e seus revolucionários “de botequim” na Câmara Federal põem o boné do MST, apoiando a invasão da Embrapa e o quebra-quebra de laboratórios de pesquisa.

Neste cenário da política brasileira, infelizmente, estas duas tendências se polarizam eleitoralmente; vemos de um lado as tropas de assalto fascistas servindo a Bolsonaro e, do outro, os seguidores da pelegagem populista de Lula….

Não sei se estes figurantes do enredo ideológico da falsa direita e falsa esquerda, que veem a cultura apenas politicamente, fazem jus à Lei Rouanet; mas são atores protagonizando um duelo no palco da política sob as lâmpadas do neon colorido da polarização.

No final, porém, igualam-se na corrupção e contra as liberdades democráticas. Pensam assim, pela exposição na mídia mercenária, impedir a formação de uma consciência livre, disposta a lutar contra esta odiosa alternativa entre Bolsonaro e Lula!

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br

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