Por Siro Darlan

No século da comunicação social, vivemos numa nova Babel, pós democracia onde vários são os dialetos criados pelos grupos sociais, alguns próprios das profissões como o juridiquês, a linguagem médica, a dos economistas, outras das gerações como a gírias e abreviações criadas pelos mais jovens, outras advindas das ideologias políticas. No próximo dia 5 de maio festejamos o Dia Mundial da Língua Portuguesa, idioma falado por 252 milhões de pessoas.

Diante do autoritarismo que voltou com uma força nunca vista desde a queda do Terceiro Reich, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a filósofa Marcia Tiburi escreveu sua magnífica obra denominada Como conversar com um fascista, para facilitar a compreensão do outro e o entendimento respeitoso dessas diferenças. A bióloga e doutora a argentina Guadalupe Nogués tem trabalhado esse tema de comunicação em educação científica há anos como professora de nível médio, professora universitária e em treinamento de professores. Dedica-se à comunicação de questões relacionadas à ciência, políticas públicas, pós-verdade, saúde e uso de evidências.

Guadalupe Nogués em suas pesquisas científica concluiu que poucos falam com quem pensa diferente,  e dá três dicas para começar um treinamento de comunicação positiva:

  1. Buscar o pluralismo e promovê-lo ativamente: assim, a dissidência torna-se visível e isso é importante porque somente se incluirmos a dissidência poderemos chegar a um verdadeiro consenso.  Para que isso aconteça, precisamos ser capazes de falar sem sermos penalizados socialmente.
  2. Ser capaz de ouvir vozes de que não gostamos: temos que aprender a conversar melhor, encontrar maneiras melhores de discordar.  Falar não é esperar a nossa vez de falar tentando impor as nossas ideias pela força ou pela insistência, ouvir para compreender o outro, sem ouvir não há conversa.
  3. Separe as ideias das pessoas: Atacar uma ideia faz com que a pessoa se sinta ameaçada porque sente que está sendo atacada como pessoa.  Com essa atitude, como vamos melhorar as ideias?  Precisamos discuti-los para que os melhores sobrevivam.  As pessoas merecem respeito, as ideias têm que merecê-lo.

A doutora equipara as conversas ao fogo afirmando que ambos estão entre dois perigos: podem extinguir ou perder o controle. Assim como demoramos muito a aprender com o fogo e manter vivo para que não desligue antes do tempo, chegou a hora de aprender a fazer o mesmo com as conversas. Importa lembrar que a tradição nos ensina que o melhor lugar para conversar é ao redor da mesa. É na mesa que a família se reúne e conversa, confraterniza, comemora. Foi na mesa que Cristo se fez permanente entre nós quando instituiu a Eucaristia. Este ato revolucionário de conversar pode levar o Homem a repensar suas ideias e consertar as rachaduras, os bloqueios, o tribalismo e as opiniões que dividem sem remédio.

Conversar com alguém que pensa diferente não é tarefa fácil.

Muitas vezes evitamos dar início a uma conversa para não criar atritos e não perder a calma. No entanto, em algumas ocasiões, somos obrigados a deixar nossa posição fazendo isso da melhor maneira, o que diz muito sobre nós. Napoleão costumava dizer que não se deve ter medo de quem pensa diferente, quem deve ser temido são aqueles que se calam e evitam dizer o que pensam. Se você está esses últimos que pensam que não vale a pena perder tempo e esforço conversando com pessoas que falam e comentam coisas com as quais você não concorda para não cair numa discussão inútil, você, na verdade está dando força e espaço para o pensamento único.

Vivemos num mundo de estranhas comunicações, repleto de perspectivas, de modos de dizer, pensar e de valorizar cada realidade que nos rodeia. Quanto mais riquezas de opiniões maior liberdade de pensamento e essa energia positiva, sabendo respeitar o que ouve e se fazer respeitado pelo que pensa e age nos torna grande e felizes. Portanto, deixar nossa opinião e nossa voz ser ouvida nos reforça como pessoa e garante a nossa identidade. O diálogo é um avanço da civilização e um momento sublime de confronto de ideias, relativizar abordagens, e, às vezes, até chegar a um consenso. O indivíduo que não tem opinião própria, tende sempre a contradizer a dos outros.

Nesse cenário social de diversidades cada vez mais complexas e dinâmicas, saber comunicar-se com quem pensa diferente é uma valiosa ferramenta de comunicação psicológica e respeito mútuo.


SIRO DARLAN –  Juiz de Segundo Grau do TJRJ, Mestre em Saúde Pública e Direitos Humanos, membro da Associação Juízes para a Democracia, conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo, conselheiro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.