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Comando Vermelho dita as ordens e acordos são feitos
Raphael Montenegro e dois de seus auxiliares mais próximos foram presos nesta terça (17) por suspeita de colaborarem com a maior facção do Estado, que tem ramificações em outras regiões do país e até no exterior. (OAB/Reprodução)
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Comando Vermelho dita as ordens e acordos são feitos

Por Alcyr Cavalcanti

“Nós vivemos num lado certo da vida errada, Fé em Deus e nas crianças, na certeza que o mal jamais vencerá o Bem”. (Coletivo-CV). Secretário de Administração Penitenciária foi preso. As ordens vem de dentro da cadeia.

Acordos para manter um frágil e efêmero equilíbrio entre o Crime Organizado e os Órgãos de Segurança às vezes são feitos, na calada da noite. Seria conforme as partes envolvidas, para evitar que as situações de conflito pudessem ser resolvidas, sem derramamento de sangue.  Raphael Montenegro,  Secretário Estadual de Administração  Penitenciária-SEAP foi preso sob acusação de ter feito um acordo com a cúpula do Comando Vermelho para impor a ordem não só dentro dos presídios, mas também para um controle da criminalidade dos bandidos que pertencem à essa rede criminal. Desde 1979, quando a Falange Vermelha foi criada na Ilha Grande após o massacre imposto à Falange do Jacaré que as orientações são dadas a partir dos presídios. Foi então formado um nível de organização profundamente hierárquico onde um pequeno grupo (os frentes) dão as ordens, para serem obedecidas fielmente  pelos companheiros da mesma rede criminal que estão atuando em liberdade.

Relatório de inteligência do governo diz que o Comando Vermelho abriga no Rio de Janeiro “mercenários da África e Europa Oriental” com experiência militar para treinar e armar a facção criminosa. (Reprodução)

O CV é a mãe de todas as facções, que foram formadas, a partir de dissidências e divisões dentro do grupo. Assim Terceiro Comando-TC e Amigos dos Amigos-ADA foram criados. Uma espécie de decálogo, de normas de procedimento e lembretes, como o citado em epígrafe são transmitidas após exaustivas reuniões aos membros da facção.

Wilton Quintanilha, o Abelha do CV. (Reprodução)

O Comando Vermelho passou por várias gerações de criminosos desde a formação original, ao que parece estão todos mortos. O último remanescente foi William da Silva Lima-o professor, figura lendária que ficou conhecido pelo livro “Quatrocentos contra Um” a descrição de um enorme cerco policial  no Conjunto Altinópolis na Ilha do Governador contra “Zé Bigode”. Atualmente os membros em destaque da Segunda Geração, poucos sobreviveram. Atualmente estamos na Terceira Geração onde Marcinho dos Santos Nepomuceno do Morro do Alemão dá as ordens, mesmo em Presídio de Segurança Máxima de Catanduva. Raphael Montenegro tinha por hábito fazer visitas aos presídios para entrevistar os mais importantes, que de fato dão as ordens não só dentro dos presídios, mas os bandidos que estão à solta, na pista. Foi justamente uma visita de “cortesia” a ele, que motivou a demissão e a prisão do secretário Raphael, que está sendo acusado de ter ido fazer um acordo de pacificação, uma trégua para que as coisas pudessem funcionar normalmente.

A soltura, de certa forma inusitada de Wilton Carlos Quintanilha, o “Abelha” de 49 anos   causou espécie, principalmente porque em seu aniversário, Abelha fez uma festa comemorativa, na qual o secretário teria participado. Corre também um vídeo em que Abelha ao ser solto, para para cumprimentar sorridente Raphael Montenegro, afinal Abelha era chamado de presidente dentro do sistema prisional.  Ele é hoje uma das figuras principais da rede criminal, orientou a recente invasão do Morro São Carlos para eliminar os rivais do Terceiro Comando e quem dá as diretrizes  no Rio de Janeiro.

Não é de hoje que as ordens são dadas de dentro da cadeia. Sempre são obedecidas.

ALCYR CAVALCANTI – Jornalista profissional e repórter fotográfico, trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo e em agências de notícias internacionais. Bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) e mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.


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