Por Luiz Carlos Prestes Filho

Durante a pandemia Covid 19 o compositor e interprete, Carlinhos Vergueiro, esteve presente em poucas lives. Mas manteve contato constante com os seus fãs, através das mídias sociais. Em entrevista exclusiva para o jornal Tribuna da Imprensa Livre, o artista afirma que apesar do ECAD hoje priorizar interesses empresariais: “Existe possibilidade de reverter essa situação a favor do compositor, do letrista, do intérprete, do arranjador e do músico. A luta é árdua. Principalmente no momento que estamos vivendo, onde o governo está destruindo a educação, a cultura, o meio ambiente, etc. Aliás conforme prometeu.” Na canção que empresta o título para o seu novo álbum o compositor demonstra garra, afirma que: “No jogo do bicho sou um leão”; que “Na boca do lixo com o meu violão, livro os meus caraminguás.”

Luiz Carlos Prestes Filho: O compositor e intérprete Carlinhos Vergueiro escuta mais música brasileira ou música estrangeira?

Carlinhos Vergueiro: Escuto mais música brasileira, mas fui criado ouvindo todo tipo de música. Meu pai foi diretor da rádio Eldorado de São Paulo, tocava piano e violão, tinha um repertório variadíssimo. Eu estudei piano clássico com meu avô Guilherme Fontainha aos quatro anos de idade, então o fato de ouvir mais música brasileira não significa que eu não ouça todos os tipos de música de todos os lugares. Gosto de música boa.

Prestes Filho: Nas rádios e televisão a música brasileira, que já foi 80% a preferida dos consumidores, caiu para 50%. Porque?

Carlinhos Vergueiro: Porque estão tocando menos música brasileira. É uma pena.

Luiz Carlos Prestes Filho: A MPB deveria atravessar um processo de renovação?

Carlinhos Vergueiro: A música está sempre se renovando, é um processo natural mas não obrigatório. A música boa é eterna.

Prestes Filho: Você produziu seu novo álbum – “Tô aí” – pensando na renovação ou na manutenção dos padrões existentes?

Carlinhos Vergueiro: Quando componho não penso nem em renovação nem na manutenção dos padrões existentes. Sou livre. Não gosto de regras. Isso tem um preço.

Novo álbum – “Tô aí” (Divulgação)

Prestes Filho: O marketing das gravadoras estrangeiras permite renovação?

Carlinhos Vergueiro: O marketing das gravadoras, não só as estrangeiras, determina o que eles pensam que o povo quer ouvir. É como se eles achassem que algumas músicas o povo não iria apreciar ou entender. Eles privilegiam as regras do mercado e as regras do mercado nem sempre favorecem os artistas e o público.

Prestes Filho: O Escritório Central de Arrecadação de Distribuição (ECAD) cada vez mais defende os interesses de empresas?

Carlinhos Vergueiro: Existe possibilidade de reverter essa situação a favor do compositor, letrista, intérprete, arranjador ou do músico, mas a luta é árdua. Principalmente no momento que estamos vivendo, onde o governo está destruindo a educação, a cultura, o meio ambiente, etc. Aliás conforme prometeu.

Prestes Filho: A vida digital chegou definitivamente com a pandemia Covid19? As antigas praças e ruas serão as lives? De quantas você participou nos últimos meses? Quais foram as mais instigantes?

Carlinhos Vergueiro: Apesar de receber vários convites, participei de pouquíssimas lives até agora. Sobre como serão os espaços que os artistas terão pra se apresentar, acho que o futuro a Deus pertence. Nem eu nem ninguém saberá responder essa pergunta.

Prestes Filho: Suas raízes levam os fãs para Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini. Quais são as outras referências estruturantes da sua identidade artística?

Carlinhos Vergueiro: Eu gravei três discos homenageando três compositores que foram meus amigos e que eu admirava, Paulo Vanzolini, Adoniran Barbosa (que também é meu parceiro) e Nelson Cavaquinho. Quem gosta de música e vive no Brasil tem muitas referências. Seria um desperdício não conhecer e valorizar esta diversidade. Como eu já falei, eu comecei estudando piano clássico com meu avô. Meu irmão Guilherme é um grande pianista. Eu sempre ouvia meu pai tocando tanto clássico como popular. O seu repertório era vasto, tocava músicas de todos os lugares do mundo. Eu gostava muito. Sempre fui e sempre serei influenciado pela boa música.

Prestes Filho: Você conta muitas histórias através de suas canções. Elas são inesgotáveis?

Carlinhos Vergueiro: Espero que sim! Eu tô aí, descascando o meu abacaxi!

Para conhecer o álbum:
https://orcd.co/toai

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LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).