Por Ricardo Cravo Albin –
1. Prólogo
A tragédia dos vândalos em Brasília na tarde de domingo foi espetáculo anunciado. E não apenas quando começaram a chegar à Capital Federal centenas de ônibus de todo o país em especial de São Paulo e do Sul.
A tragédia kafkiana vem sendo trombeteada ao menos por três eventos de imediata compreensão, a saber:
1- A ocupação continuada de quartéis do exército pedindo por regime militar. Irregularidade finalmente encerrada nesta segunda feira.
2- O ensaio prévio do terrorismo deste domingo ocorreu há dez dias na diplomação de Lula, ocasião em que os certamente mesmos terroristas incendiaram vários ônibus e carros, tornando intransitável a Praça dos Três Poderes.
3- E finalmente a descoberta do bolsonarista de nome inacreditável George Washington que estava pronto a explodir um caminhão com explosivos no Aeroporto de Brasília. Réplica perfeita do atentado do Riocentro. O que fez o autor dessas linhas publicar à época e pela primeira vez o título premonitório e agora usual “Terror em Brasília”.
2. Primeiro Ato
Pela manhã do domingo, centenas de ônibus começaram a chegar à Brasília.
Ao início da tarde policiais da PM do DF escoltaram (!!!) disciplinadamente uma multidão espantosa em direção aos três palácios da República, o Planalto, o Congresso e o STF.
Até então, ninguém sabia o que iria ocorrer, se bem que a edição do Globo no domingo pela manhã já antecipasse com detalhes as manifestações bolsonaristas pedindo um regime militar e a queda do Presidente empossado.
As autoridades militares do DF, em especial a PM, fugiram vergonhosamente aos mínimos cuidados que um movimento de tal porte estava a exigir para a manut encao da ordem pública.
Ao meio da tarde, as centenas de atores da tragédia iniciaram o medonho espetáculo de vandalismo. A ironia se sobressaía com os terroristas ou enrolados com as bandeiras verde-amarelas aos corpos ou agitando o símbolo nacional, no momento em que adentravam com pedras e paus nos palácios do povo brasileiro.
De imediato, minha memória se reportou às cenas dos famigerados black blocs quando dos protestos contra Dilma no centro do Rio. Ou seja, extremas direita e esquerda são mesmo irmãs siamesas.
E a ação policial? Pífia, nula. Suspeitíssima, para se dizer o mínimo.
A invasão “trumpista” no Capitólio era servilmente imitada. Pastiche inominável.
Os manifestantes tiveram tempo suficiente por horas a fio – sem serem detidos por policiais – para cometer os crimes mais hediondos contra o patrimônio público, profanando com fúria os três palácios, destruindo mobiliário, documentos e até, o que me doeu (embora esperado pelo nível de boçalidade dos vândalos), a infâmia de rasgar no Planalto quadro histórico de Di Cavalcanti (As Mulatas).
Suponho – espero estar errado – que cheguei a ver no chão quadros com traços de Djanira ou de Fayga Ostower.
Presos? Só cerca de 200, se tantos.
3. Segundo Ato
Já caía a noite quando a polícia finalmente intimidou a trupe maldita a evacuar a Praça dos Três Poderes e encerrar a primeira tragédia surreal do ano 2023.
Bombas de efeito moral envolveram a Praça, perfeita moldura de fumaça silenciosa a entristecer o Brasil todo com o mais dantesco show já visto na cidade dos gênios Lucio Costa e Niemeyer.
4. Epílogo
O presidente Lula falou ao Brasil do interior de São Paulo, onde confortava os desabrigados pelas chuvas. Indignado, como tinha mesmo que estar, leu decreto de intervenção no aparato policial do DF. E prometeu que os culpados, fossem quais fossem, seriam responsabilizados. Referindo-se apenas ao Genocida sem nomeá-lo, deu conta ao Brasil de que o movimento subversivo foi financiado pela banda podre do agronegócio, os mesmos que destruíram os ecossistemas das matas brasileiras, os mesmos que roubavam as terras dos povos indígenas, os mesmos que extraíam os metais do solo sem pagar impostos.
O repugnante governador Ibaneis do DF (hoje já destituído) começou entrevista pedindo desculpas ao povo e ao presidente Lula. Ao que logo um repórter soprou pela televisão que as desculpas haviam recebido uma sonora recusa por parte do Presidente.
A crítica política igualmente anotou o protesto do procurador Aras, o mesmo que por anos a fio assentia a qualquer ordem de Bolsonaro.
O procurador geral, aliás, a pedir ao STF – logo ele, Aras, a romper canina fidelidade – que negasse pedido de clemência do chefe Bolsonaro a culpados pela chacina do Carandiru.
Só que Bolsonaro já havia embarcado para Orlando. E não mais poderia demiti-lo…
“O Tempora, O mores”, como clamavam os juristas na antiga Roma.
P.S– Minha indignação quer indicar ao STF e a Lula que os empresários que financiaram a sedição da República sejam presos. E – o essencial – paguem. PAGUEM os prejuízos impostos ao erário do povo.
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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