Por Alexandre Farah –

Uma das primeiras iniciativas do desgoverno Bolsonaro, no campo internacional, foi a adesão à desastrada ideia de transferir a Embaixada Brasileira em Israel para Jerusalém. O simples anúncio desta medida de cunho político causou enormes protestos na comunidade árabe internacional, que passou a ameaçar o Brasil com retaliações econômicas.

Sem me estender muito sobre o tema, o tamanho daquela bobagem estratégica do governo federal, que felizmente não prosperou, pode ser medido pelos números das exportações brasileiras: US$ 11,5 bilhões para os países árabes em 2018, contra apenas US$ 321 milhões para Israel no mesmo ano. Não se trata de menosprezar o comércio com Israel, certamente importante, mas qual o sentido em criar uma aresta desnecessária com o mundo árabe?

A Liga Árabe congrega 22 países que têm interesse em construir alianças estratégicas para sanar suas necessidades, entre as quais está a produção de alimentos, uma especialidade do Brasil. Para isso, dispõem de US$ 2,3 trilhões alocados em seus fundos soberanos.

Nenhum governo tem o direito de desprezar os interesses nacionais.

A comunidade árabe-brasileira acompanha com interesse a aproximação pacífica e produtiva dos povos. Somos mais de 15 milhões de descendentes de libaneses, de sírios, e de muitos outros países que para cá imigraram e construíram suas vidas no comércio, na administração, nas carreiras liberais e muitos na política.

CASO CHINA

Recentemente, assistimos estarrecidos a uma nova frente de atritos aberta por um dos filhos do presidente da República, desta vez atacando, desrespeitosa e desnecessariamente, a China, o principal parceiro comercial do Brasil. Uma atitude insana, uma reprodução de quinta categoria de um fantasioso conflito ideológico estimulado a partir de Washington na gestão Trump.

O Brasil vem se desindustrializando, tragicamente, há pelo menos 20 anos. Collor, FHC, Lula, Dilma… em todos esses governos caiu o percentual de participação da indústria no PIB brasileiro. O agronegócio do Brasil, pujante e tecnologicamente capacitado – e aqui vai nosso viva à Embrapa! – é o setor que tem “segurado as pontas” da economia nacional. Graças às exportações do nosso agronegócio, incluindo grãos e a produção de proteína animal, o Brasil tem conseguido se manter economicamente de pé.

Consolidada como principal parceiro comercial do Brasil, a China respondeu por US$ 33,6 bilhões do superávit de US$ 50,9 bilhões na balança comercial em 2020, mostram os dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), divulgado em 15 de janeiro deste ano pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ou seja, dois terços do saldo positivo de 2020 se deveram às trocas com o gigante asiático!

Só um governo descomprometido com os interesses nacionais – e completamente desequilibrado – poderia cometer o desatino de atacar, sem mais nem menos, um parceiro dessa importância! Sobretudo em meio à severa pandemia de Covid-19, que tantas perdas nos tem impingido, em vidas, em negócios fechados, em pobreza e fome.

Nosso país está claramente fora de prumo. Precisamos fortalecer parcerias, criar unidade, construir um futuro próspero para todos. Com respeito, buscando objetivos comuns. E isso inclui a política externa e as boas relações diplomáticas. Sem elas não vamos a lugar nenhum.


ALEXANDRE FARAH – Advogado, Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, ex-presidente da RioTrilhos, ex-Conselheiro Federal da OAB, Deputado Estadual da primeira bancada do PDT-RJ.

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