Por Iluska Lopes –
Em videoclipe, Da Ghama regrava clássico da década de 90 em releitura amadurecida contra a intolerância religiosa e pela diversidade.
Em meio aos impactos da epidemia de fake news que salta do campo virtual para a vida real e se propaga no terreno fértil dos discursos de ódio e preconceitos, desvendar a verdade é como trilhar rumo à justiça social. Inspirado nessa premissa, um dos clássicos do grupo de reggae Cidade Negra – “Falar a Verdade” – volta à cena após 30 anos, em releitura amadurecida e num tom de protesto contra a intolerância religiosa e a favor da diversidade. O remake é tema do novo videoclipe do cantor e compositor Da Ghama, ex-guitarrista da banda e autor da canção, em parceria com Rás Bernardo, Lazão e Bino Farias. No audiovisual, que será lançado no dia cinco de abril, Da Ghama interpreta Jesus Cristo Afro, que de uma ilha paradisíaca exalta as religiões, relativizando a verdade ao abordar valores atrelados à fé e crenças.
‘Falar a Verdade’ teve o seu lançamento no CD “Lute para Viver” (1990), atravessou décadas, impactou gerações e retorna ao mercado musical trazendo na sua letra críticas e abordagens sociais profundas, mais atuais do que nunca. O diretor do videoclipe, Louiz Baptista, adota uma linguagem universal e pautada em valores filosóficos e existenciais para dialogar com as mais diversas religiões: budismo, cristianismo, catolicismo, xamanismo, hinduísmo, judaísmo, islamismo, candomblé e umbanda.
“A nossa intenção é de unir os religiosos, independente de credos e opiniões. Exaltamos a igualdade, a liberdade de escolha do ser humano. Pela manifestação artística, buscamos uma forma marcante de protestar contra qualquer forma de preconceito e intolerância, porque esse é também um dos papéis do artista, de conscientizar, de levantar a bandeira da paz, do amor. Atos assim são fundamentais no atual cenário mundial”, afirma Da Ghama.
A regravação de “Falar a Verdade” na voz de Da Ghama ganha uma versão totalmente repaginada. As cenas do videoclipe original, que tinham foco em modelos sensuais, usando biquínis e se divertindo com a banda em viagens por praias lindíssimas, deram lugar às abordagens mais coerentes ao cenário atual do país, assim como refletem as mudanças na percepção do autor do hit, ao avaliar os fatos mundiais e o grau de importância que eles tomam nos contextos sociais.
O roteiro intercala takes em um ‘paraíso’ – tendo como cenário a Ilha do Guaraú, em Peruíbe (SP) – com performances artísticas de Da Ghama. O artista contrasta entre expressões de austeridade e serenidade, como forma de representar o seu protesto contra a intolerância religiosa e racial, assim como os momentos de alegria e diversão, simbolizando a paz, o amor e a fé em dias melhores para o planeta.
A solução encontrada por Louiz Baptista para enfatizar a religiosidade, foi utilizar uma pequena TV portátil de tubo, por onde a divindade afro interpretada pelo artista assiste ao espetáculo musical. “A mensagem que queremos transmitir é que não importa as nossas diferenças ou crenças, quando temos fé o universo sempre está nos ouvindo e disposto a nos atender. A tolerância produz resultados surpreendentes na vida. A verdade, é que precisamos nos conhecer melhor e, assim, fazer uma reforma interna buscando um planeta mais justo e feliz”, comenta Da Ghama.
“Se quiser receber amor, dê amor. Seja você mesmo a mudança que deseja ver na sua vida. Não há como fazer um bolo com sabor e formato diferentes sem mudar os ingredientes da receita, a forma de misturá-los e a forma onde a massa é assada. Tudo depende das nossas percepções”, acrescenta.
Baptista teve como inspiração para roteirizar a obra, pesquisas que retratam as religiões e refletem a aceitação de seus praticantes, entre elas videoclipes com temáticas que dão destaque aos ritos africanos ou afro brasileiros, de artistas e conjuntos como Rosa Amarela; MC THA; 3030 e Baiana System. “Podemos constatar através de inúmeros comentários positivos uma grande aceitação respeito e admiração por parte do público pertencente a outras religiões“, justifica o diretor.
E no clima solidário do “estamos aí pro que der e vier”, “Falar a Verdade” ganha participações ilustres no seu videoclipe. De personalidades que, assim como Da Ghama destaca na canção – “luta para se manter” e “pede pra sobreviver”. Entre os líderes religiosos estão a candomblecista Ialorixá Wanda de Omolú do Axé Egi Omin, o Pastor Ivo Domingues, o Padre Nando Moraes, o Xamã Antônio Luiz, o Umbandista Matheus Santana, a Budista Denise Diniz, o ativista Michel Mekler (Associação Religiosa Israelita), o Mulçumano Mamour Bah e o Babalawo Ivanir dos Santos.
Estereótipo do criador
O remake de “Falar a Verdade” – que na verdade nunca saiu do playlist das rádios brasileiras – reforça o estereótipo desse seu criador – Da Ghama. As origens sociais do cantor vêm da Baixada Fluminense, mais especificamente do município de Belford Roxo, presente em muitas das suas composições para ressaltar a vida dura que ele teve na infância e na adolescência. Desde que formou o grupo Lumiar, na década de 80 – que deu origem ao Cidade Negra – Da Ghama canta as mazelas de um mundo impactado pelo preconceito e pela intolerância racial e religiosa.
Depois que deixou o ‘Cidade’ para investir na carreira solo, Da Ghama se posicionou como sincero apreciador da diversidade, com hits conscientes no seu primeiro álbum “Violas e Canções”. Na produção seguinte, BaixÁfrikaBrasil (2016), o cantor exalta a ideologia reggae e mergulha em questões sociais, chamando atenção para áreas carentes e esquecidas pelo poder público, bem como para questões ecológicas.
O disco também homenageia a Baixada Fluminense e cantores, compositores e bandas que vêm fazendo a história do reggae no Brasil, além da década da Consciência Negra, reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que vai do período de 2014 a 2024. (Fonte: Assessoria de imprensa)
Ficha técnica de o videoclipe “Falar a Verdade”
Direção e roteiro: Louiz Baptista
Edição de imagem: Louiz Baptista e Da Ghama
Produção: Reggae Brasil Produções
Fotografia e drone: Saymon Rodrigo Passarela
Figurino: Gleyce Sampaio
Acessórios: Lucas Guerra GIMP
ILUSKA LOPES – Jornalista, Especialista em Turismo, Professora, Locutora, Colunista e Diretora de Redação do jornal Tribuna da Imprensa Livre. iluska@tribunadaimprensalivre.com
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