Por Sérgio Vieira –

Portugal/Europa – Séc. XXI

Criança, é criança. Seja em que parte do mundo for.

O que acontece, é que algumas nascem à beira-mar com todos os benefícios que merecem ter, e outras nascem e crescem em Cabul, no Afeganistão, onde todos os direitos lhes são negados.

Não podemos esquecer os idosos, as mulheres que são tão maltratadas.

Mas criança é criança. Delas depende o futuro do mundo.

Mas que mundo no futuro podemos esperar se crianças já nascem refugiadas ?

Que já nascem espezinhadas nos seus direitos mais básicos ?

Sinceramente me chocam as imagens que chegam pela TV do aeroporto de Cabul e não só, do Afeganistão no seu todo. Com pessoas penduradas nos aviões a tentarem escapar à barbárie de um regime suicida.

Pergunta: Onde estão agora os “bravos” soldados americanos ? E os franceses ? E os ingleses ?

Fugiram que nem ratos do porão, ou foram enviados em sacos plásticos pretos de volta às suas origens.

Limitam-se a poucas ações de resgate do seu pessoal que estavam em Cabul e de carona levam alguns afegãos.

Estiveram durante 20 anos a patrulhar a zona sem nunca intervencionar. Agora a coisa está feia ! Toca a regressar que já é tarde !

A minha coluna tem o título de “As crianças do Leblon , e as crianças de Cabul” não é à toa.

As crianças do Leblon nascem em condições privilegiadas relativamente a uma criança que nasce em Cabul. As crianças do Leblon de um modo geral nascem com assistência no parto, mamam e comem e vivem uma vida feliz de infância.

O que espera uma criança que nasce em Cabul ? Migalhas. Migalhas de uma infância tragicamente vivida. Com pais separados à sua nascença, quando não muito raro por morte e por sacrifícios tortuosos.

Uma criança que nasce e cresce em Cabul, nunca será uma criança normal. Nunca terá a alegria de uma criança que nasce no Leblon.

A criança Afegã será sempre um produto de uma família involuntariamente disfuncional. Por tudo, pela chupeta que falta, pelo leite materno que escasseia, os biscoitos que não têm e nunca irão ter, pelos brinquedos que nunca irão ter…

Enfim, dói no coração essa triste realidade vivida por nós. E nós aqui sem poder fazer nada. De braços cruzados.

A minha pequena parte já fiz. Já doei para a UNICEF.

Uma gota de água no oceano, mas já fico feliz pela minha pequena contribuição.

Espero que cada vez que olhemos para uma criança fora desse mundo, vejamos e projetemos o que é uma criança desta, privada dos seus mais básicos direitos.

Uma palavra ao povo Afegão que resiste aos mais cruéis ataques.

Muitos ficarão pelo caminho, mas também muitos escaparão.

Espero é que os países ditos desenvolvidos, Portugal, incluído, não deixe ao relento e à fome tantos milhões de pessoas.

“A criança é por natureza um ser de encantamento, um ser que experimenta a leveza e que não retém a dor”.

SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.


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