Redação

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou nesta 4ª feira (11.nov.2020) a retomada dos testes clínicos da CoronaVac, vacina contra a covid-19 desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac.

Os testes haviam sido interrompidos na 2ª feira (9.nov) depois que a agência foi notificada pela instituição paulista da ocorrência de 1 “evento adverso grave inesperado“. Trata-se da morte de 1 dos voluntários que, mais tarde, informou-se ter sido por suicídio.

Na nota, a agência afirma que “entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação e segue acompanhando a investigação do desfecho do caso para que seja definida a possível relação de causalidade entre o EAG (evento adverso grave) inesperado e a vacina”.

A agência reguladora afirmou que a medida “de caráter exclusivamente técnico, levou em consideração os dados que eram de conhecimento da Agência até aquele momento”. Disse ainda que a suspensão “não significa necessariamente que o produto sob investigação não tenha qualidade, segurança ou eficácia” e que suspensão e retomada de testes são “eventos comuns em pesquisa clínica e todos os estudos destinados a registro de medicamentos”. Leia a íntegra (134 KB) do comunicado.

O texto rebate as declarações do Instituto Butantan, que afirma ter comunicado as razões da morte do voluntário já em 6 de novembro, quando fez o 1º contato com a Anvisa sobre o caso.

A agência nacional nega. Disse que só teve conhecimento do evento sem detalhamento e, por causa da “precariedade dos dados enviados pelo patrocinador naquele momento” e da “ausência de parecer do Comitê Independente de Monitoramento de Segurança optou por suspender os estudos. Leia a cronologia dos casos informada por cada instituição aqui.

DISPUTA POLÍTICA MARCA IMPASSE

A interrupção dos testes foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro na manhã de 3ª feira (11.nov). Em resposta a 1 seguidor no Facebook, o mandatário afirmou: “Morte, invalidez e anomalia… Esta é a vacina que o Dória (sic) queria obrigar a todos os paulistanos a tomá-la (sic). O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

Ambos divergem sobre a obrigatoriedade da aplicação da vacina. O tucano diz que exigirá a imunização em São Paulo. Já Bolsonaro afirma que cabe ao Ministério da Saúde recomendação dessa natureza.

O presidente também tem levantado suspeitas sobre a segurança da CoronaVac. Em 21 de outubro, depois de o Ministério da Saúde anunciar que adquiriria as doses da vacina, Bolsonaro cancelou o acordo. O Poder360 apurou que ele enviou mensagens a ministros com o seguinte teor: “Alerto que não compraremos vacina da China. Bem como meu governo não mantém diálogo com João Doria sobre covid-19″. No mesmo dia, disse que o Brasil “não será cobaia” da vacina chinesa.

A condução de políticas de combate à covid-19 tem sido debate entre os 2 desde março. João Doria é 1 dos cotados para se candidatar à Presidência em 2022. Bolsonaro, por sua vez, deseja se reeleger.

INSTITUIÇÕES NEGAM INTERFERÊNCIA

Em entrevista concedida na 3ª feira (10.nov) na sede do Instituto Butantan, o secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse que o governo paulista, comandado por João Doria (PSDB), “não tem trata e nunca tratou a pandemia e a vacina de forma política”.

Mais tarde, o diretor-presidente da agência reguladora, Antonio Barra Torres, disse: “Nós não tecemos no passado, não teceremos agora e não teceremos no futuro comentários sobre questões políticas. O que o cidadão brasileiro não precisa hoje é de uma Anvisa contaminada por questões políticas. Ela existe, sim, existe. Mas ela tem que ficar daqui para for.”

Em março, porém, ele acompanhou, sem máscara, manifestação pró-governo ao lado de Bolsonaro. Questionado sobre uma eventual comunicação sobre o assunto com o presidente sobre a suspensão da CoronaVac, Barras Torres negou. Disse ainda não ter função de assessorar o presidente.


Fonte: Poder360