Por André de Paula

O cidadão bolsonarista Marcelo Moutinho Santana, agente de saúde da Secretaria do Município do Rio de Janeiro, foi flagrado pelas câmeras do prédio em que moramos queimando a porta de nosso apartamento, não sem antes ter jogado artefato incendiário pela nossa janela, o que poderia ter levado o sinistro ao prédio todo.

Já vinha o terrorista, há muito, nos ameaçando por meio  do interfone. Só descobrimos sua identidade após o ato incendiário, pois o interfone não acusa o interlocutor que mora dois andares acima do nosso.

Para evitar o flagrante, a síndica nos negou a cópia das fitas, o que só foi conseguido dias após, quando da instauração do inquérito.

Essa mesma síndica nos multou por, no horário permitido das 20:30h, de nossa janela, participarmos das manifestações “Fora Bolsonaro!”, que acontecia ano passado em todo o país. Evidentemente não pagamos e não pagaremos essa coercitiva e ilegal multa e, ao revés, estamos com ação contra o condomínio.

Nenhuma medida contra o bolsonazi, nenhuma medida contra os outros  bolsonaristas do prédio que também se manifestaram e nenhuma medida contra os torcedores de times de futebol que, mesmo de madrugada, dão vazão a sua alegria por vitória do time. Sequer uma assembleia foi realizada, apesar da insistência nossa para discutir tão grave atitude que poderia ter levado óbito a vários moradores do prédio.

Parece que a coisa foi realmente orquestrada, pois mentiram em juízo, tanto a síndica quanto um dos funcionários por ela orientado. Sendo que a síndica, para tentar atenuar o crime do incendiário, chegou a afirmar que nós fazíamos atos pela madrugada adentro. O funcionário está, inclusive, respondendo em juízo por falso testemunho.

Outro viés da emblemática e sórdida trama criminosa acontecida é o fato de a advogada Bárbara, minha companheira então, ser negra, fato jamais tolerado pelos bolsonazis racistas do prédio.

Agem, esses bolsonazis, como os camisas pretas de Mussolini, o presidente insufla e eles fazem o serviço sujo.

Nessa marcha, foram e são vítimas os que lutam pela liberdade de expressão e pela defesa dos direitos humanos, como foi o nosso caso, advogados da Frente Internacionalista dos Sem Teto – Fist.

Na ação da 17ª Vara Criminal, o senhor Marcelo, réu confesso, juntou laudo alegando ser portador de doença mental. Como uma pessoa que trabalha com saúde no Município pode ser louco?

Aliás, esse psicopata atropelou, aleijou e não socorreu quando dirigia bêbado em Saquarema, pelo que também responde na Justiça.

E a OAB, chamada que foi, nenhuma nota de apoio, nenhum desagravo aos advogados, um deles membro da Anistia Internacional e a outra, ex-membra da Comissão de Igualdade Racial da Ordem. Será pelo fato de a OAB/RJ ter em suas hostes dirigentes bolsonaristas confessos? Aliás, a Ordem vem claudicando e dando azo à proliferação do fascismo.

Recentemente, Arão da Providência, advogado indígena da Aldeia Maracanã, para a qual também advogamos, teve uma peça de defesa na Justiça Federal enviada pelo desembargador Alcides Martins para a Polícia Federal, para onde foi chamado o advogado, sem nenhuma solidariedade da Ordem que, sequer, compareceu a sua oitiva. Ficou claro, nesse caso, mais uma vez a coerção intimidatória fascista, como nos tempos da ditadura militar – que criminalizava o direito de ampla defesa e contraditório- que Bolsonaro quer reviver.

A OAB, lavando as mãos e deixando que seus pares sejam criminalizados ou assassinados, cumpre papel bem diverso da resistência que ofereceu nos tempos sombrios da Ditadura.

Urge romper o isolamento, fazendo-se necessário o apoio a vidas humanas que representam os vulneráveis e pobres de nossa sociedades.

ANDRÉ DE PAULA é dominicano de coração, advogado e membro da coordenação da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (Fist), membro da Anistia Internacional e da Torcida Anarcomunamérica.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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