Por Pedro Augusto Pinho 

Anina é pouco estudada a capacidade soberana dos países, no mundo globalizado por finanças apátridas.  

Dificilmente, no caso brasileiro, não é imputado aos Estados Unidos da América (EUA), de imensa influência na vida nacional desde o início do século passado, o que, efetivamente, eles são tão vítimas quanto nós. Porém, há na elite estadunidense quem perceba e procure contornar ou vencer esta oposição.  

No Brasil, nossas elites, descritas no artigo anterior, “Militares, Religiões, Elites Brasileiras e o Desenvolvimento Nacional” (Pátria Latina, 21/10/2022), se acomodam e se submetem, com perdas de toda ordem. 

Iniciemos por entender quem forma as finanças apátridas.  

Até bem recentemente, as finanças tinham origem e interesses nacionais: da Inglaterra, no século XIX, dos EUA, em parte do século XX, mas atualmente elas se misturam em paraísos fiscais, são apátridas. 

Com esta formação, não há porque mencionar um país, mas a formação do capital destas finanças apátridas. 

O que denominamos capitais tradicionais são aqueles cuja origem é fundiária, a propriedade de terras onde as pessoas pagavam para viver e trabalhar. O processo de evolução capitalista exigiu que propriedade e produção se desvinculassem, e mais adiante que capital financeiro, territorial e produtivo formassem três grupos de interesses distintos e muitas vezes conflitantes. 

Grande parte das pessoas, inclusive de nossas elites, estagnou sua compreensão econômica nesse momento histórico. 

Hoje tudo e todos se concentram no capital financeiro. Ele é o proprietário das terras, dos sistemas produtivos, da circulação de bens e da comunicação que impõe os comportamentos e as percepções das pessoas.  

Que semelhança guarda o capital tradicional com o capital atual, que denominamos marginal? Muito pouca, praticamente, se observarmos pela ótica do poder, nenhuma. 

Vamos então começar sua exegese pelas consequências, que ficam mais fáceis, por ocorrerem diante de nós, de serem percebidas. E talvez fique também mais evidente que não há qualquer benefício que se possa esperar, individualmente e nacionalmente, deste capital apátrida. 

Pergunte-se, caro leitor, por que o Ministro Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, o que tem todas as respostas para a imensidão da ignorância do presidente que lhe serve, confessou espontaneamente ter seu dinheiro em paraíso fiscal? Estaria, num assomo de sinceridade, confessando a evasão fiscal? Teria cometido um deslize, um ato falho? 

Ousamos pensar que não. Ele, como fiel e bom servidor dos capitais apátridas e marginais, estava dando um exemplo a ser seguido pelos capitalistas que, ainda, insistem em aplicar no Brasil. E isso faz sentido quando se revela a situação atual destes capitais. 

Um pouco da história financeira recente. Quando as finanças reconquistam o poder? Como está sua situação em 2022? 

Alguns colocam em 30 de maio de 1919, quando, em reunião no Hotel Majestic, em Paris, são criados o Royal Institute of International Affairs, de Londres, e o Council on Foreign Relations (CFR), nos EUA.  Outros na ação sobre o psicossocial do ocidente, com o Woodstock Music & Art Fair, festival de música, realizado entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, no estado de Nova Iorque (EUA), com drogas e sexo, envolvendo 400 mil pessoas. Ainda quem veja na luta contra industrialização, com o embargo e choque do preço do petróleo, em outubro de 1973. 

Podemos, no entanto, definir a data insofismável da nova Tábua de Moisés, levada ao mundo em novembro de 1989, por economistas de instituições financeiras situadas em Washington D.C., como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (WB) e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, baseadas em texto do economista John Williamson, do International Institute for Economy (IIE), hoje denominado Peterson Institute for International Economics (PIIE), um think tank estadunidense, criado em 1981, sediado em Washington (DC). Este decálogo será denominado “Consenso de Washington”. 

Sendo os EUA a principal economia do ocidente, é razoável que se tome a dívida pública daquele país como referência para as finanças ocidentais. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) estadunidense, desde 1990 até 2000, suportado pelas sete crises que o Consenso de Washington desencadeou pelo mundo, a dívida manteve-se no entorno dos 60%. Em 2008 ela inicia um processo de aumento (73%) – 2009, 86%; 2010, 95%; 2011, 99%; 2012, 103% (Fonte: InfoMoney, 18/11/2016) – que arrasta as finanças apátridas e gera a situação de pânico que estas vivem atualmente. 

O FMI acompanha a dívida mundial. De acordo com seus relatórios (Global Debt Database) após a vitória das finanças, houve nos primeiros dez anos leve elevação da dívida, não chegando a 25 pontos percentuais. Este período de 1990 a 2000, os capitais marginais estavam estudando a colocação de seus ativos monetários no sistema bancário aberto com as desregulações dos anos 1980. 

Foram apenas quatro trilhões de dólares estadunidenses (USD) que as drogas, os contrabandos de pessoas e órgãos humanos, a prostituição internacional, e o tráfico de armas colocaram na formalidade. Viram que, não apenas, não seriam perseguidos como elevariam suas taxas de lucro. 

Por outro lado, o sistema financeiro, com esta maior liquidez, passou a emitir maior volume de papéis de dívida, sem qualquer preocupação com o lastro, ciente do crescimento dos depósitos dos capitais marginais. E isso verdadeiramente ocorreu até a crise de insolvência, provocada para transferir dos bancos públicos para os gestores de ativos privados, a maior parcela possível de valores monetários. Chamou-se “crise do subprime”, começou nos EUA e se espalhou por todo Atlântico Norte, com reflexos no resto do mundo. Durou de 2008 a 2010. 

Desta crise surgiram duas consequências: o papel relevante das finanças marginais no sistema financeiro e a liberação de captação dos recursos sem preocupação do lastro, principalmente pela ação do crime na elevação das aplicações. 

Tudo isso foi possível pelo papel preponderante dos paraísos fiscais como destino das economias mundiais. Já não se investia em produção, inteiramente tomada pelos gestores de ativos onde o Estado ia se afastando, nem em propriedades territoriais, pela baixa liquidez, num sistema em que esta era fundamental – as drogas, lícitas e ilícitas, a os investimentos em vírus propagadores de mortes. 

Pode parecer cruel e exagerado, mas a concentração de renda e riqueza é intrínseca ao sistema capitalista e desmesurada quando se trata do capital financeiro. Este não pode conviver com a demanda crescente por produção que o aumento populacional obriga. O grande inimigo das finanças é a demografia, como atestam as projeções das Nações Unidas (ONU) para 2100. 

Hoje, 2022, o volume de títulos sem lastro sustentando aplicações financeiras em fundos de investimentos, em dívidas e derivativos, de acordo com os organismos oficiais e “think tanks” varia, em USD, de 300 trilhões (FMI) a dois quatriliões (Instituto Schiller, Alemanha). 

Há, portanto, uma imensa bolha a explodir carregando as finanças públicas e privadas. E que aumenta pela voracidade e irracionalidade dos aplicadores. O ministro Posto Ipiranga estava, como o presidente do Banco Central, que também cometeu o mesmo sincericídio, incentivando os incautos a colocarem seus recursos reais na fantasia de um título sem lastro, que abundam nos paraísos fiscais. 

As perspectivas são sombrias. O desemprego, a fome, a miséria levam à alienação, à fuga da realidade com consumo de drogas sempre mais potentes, psicotrópicas, ao desprezo pelo próprio corpo e dos que lhe cercam, “pintando um clima”, como não se envergonhou de afirmar o presidente das 687 mil mortes (20/10/2022) por covid-19, diante de jovens imaturas, menores de idade. 

Neste imenso tsunami financeiro não haverá distinção das origens, porém os traficantes de drogas, de pessoas, de vantagens ilícitas, sempre terão mais liquidez para enfrentar, acostumados às variações da especulação e das disputas de poder. 

O Monitor Mercantil (3ª feira, 18/10/2022) noticiando a abertura da 90ª Assembleia Geral da Interpol, em Nova Délhi (Índia), reproduz as palavras do secretário-geral da entidade, afirmando que o custo global do crime cibernético deve chegar a USD 10,5 trilhões e o abuso infantil online é significativamente subnotificado, demonstrando o peso dos capitais marginais na economia globalizada. 

Com o rompimento da bolha, perderá o País, e com ele os que usufruem de condições muito peculiares, por corrupção ou outras apropriações indevidas de recursos públicos e mesmo privados (subornos), pois a necessidade das finanças apátridas e marginais não distingue quem quer que seja, nem onde esteja, elas se apropriarão de todos recursos pois é a manutenção de seu próprio poder que o tsunami coloca em perigo. 

Perderão os de sempre: os desvalidos de toda sorte, vivem cada dia buscando a sobrevivência, e os trabalhadores, com modestíssimas poupanças para uma doença, uma falta de trabalho, um acidente. 

A única saída para o Brasil é se livrar dos neoliberais no poder, trazer os nacionalistas, os que não fazem da bandeira nacional uma fantasia eleitoral, mas um símbolo a ser respeitado, que não usam o nome de Deus em vão nem em falsos milagres neopentecostais. 

Enfim que se promova a reconquista da independência com soberania, que o País gozava há cinco décadas. 

PEDRO AUGUSTO PINHO é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), avô e administrador aposentado, com 25 anos de trabalho na Petrobrás. Um cidadão nacionalista e patriota, diplomado e ex-professor na Escola Superior de Guerra.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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