Por Ricardo Cravo Albin

Política é uma praga tal que eu aconselho todos a não se meterem nela. (Thomas Jefferson)

A frase acima seria perfeita se fosse possível. Mas não é. Será a política uma nuvem tal como Magalhães Pinto a definiu com adequação na sua essência de obliquidade: “Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e já mudou.” Pensadores, contudo, existem que acreditam nela somente quando arremessada para o futuro. Ernesto Pena por exemplo, pensou só no futuro, descrente do agora: “Para a política o homem é um meio; para a moral é um fim. A revolução do futuro será o triunfo da moral sobre a política.” Já Henri David Thoreau insiste no tema-chave, o eterno conflito entre política e moral – “Os homens hão de aprender que a política não é a moral e que se ocupa apenas do que é oportuno.”

Encerro esses pensamentos sobre política, que colhi desde as saudosas aulas de filosofia no curso clássico do Colégio Pedro II, com duas reflexões norte-americanas mergulhadas em oportuno cinismo. A primeira de John Galbraith – “Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.” A segunda em que o controverso Ronald Reagan é raramente audacioso:

“Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira.”

Reflito sobre meus bancos escolares no velho casarão de São Cristóvão porque os acontecimentos gravíssimos do último domingo, dia 8, acenderam tochas incendiárias de opiniões políticas que me atingiram pessoalmente. Só porque – como é do meu feitio – tomei não só posição condenando de A a Z todos atos de barbárie contra o patrimônio público e sobretudo obras de arte com a selvageria de um tosco “Exército de Brancaleone”, tanto violento e injurioso a proclamar golpe militar, quanto a destituição do presidente recém-eleito.

O Senado (Câmara, STF e Planalto) com estilhaços por toda a parte após os atos golpistas. (Agência Brasil)

Ambos crimes graves contra o Estado de Direito. Por um triz – acredito pelo primarismo dos manifestantes – a tentativa golpista deu em nada e quase duas mil pessoas foram presas. Deveriam ser mais, já que na Praça se concentraram em torno de cinco mil bolsonaristas radicais, dizendo-se patriotas e insultuosamente enrolados no pavilhão verde-amarelo. Como que se contradissessem que eram a vontade da lei e não da truculência, da baderna e do caos. Hoje, uma semana depois da Tragédia Kafquiana em Brasília, todos acompanhamos com atenção o noticiário da apuração dos fatos criminosos:

1– A prisão do Ministro Anderson Torres ao voltar ao país de Orlando, para onde se evadira exato um dia antes da ocupação de Brasília, que caberia a ele defender.

2– A investigação, essa há de ser prioritária, dos financiadores do levante, com ônibus, alimentação e até dormitórios. A esses possíveis responsáveis deve caber o pagamento integral dos prejuízos impostos aos bolsos de todos os brasileiros. Eles têm que pagar tostão por tostão do que os Três Poderes gastarão com os danos ocasionados.

3– E, finalmente, registre-se um milagre político que assombrou o país. Tal como uma paráfrase do “Milagre em Milão”, de Vitorio de Sica, o procurador Augusto Aras provocou um “Miracolo a la Capitale”, pela primeira vez agindo dentro de suas responsabilidades, a de defender o país e não apenas o presidente Bolsonaro que o nomeou. O que gerou vários lampejos de indignações, uma delas que registro (omito o autor, contudo): “O Judas Aras que traiu seu Messias”.

E por que paro por aqui? E por que tanto citei ao começo desta crônica pensamentos sobre a anatomia da política?

Porque alguns dissabores provocados pelo meu artigo da semana passada consumiram um pedaço do meu espírito.

Devo de pronto declarar que tenho amigos de todas as cores e credos, a quem respeito e guardo no coração. Mas alguns me pediram que nada lhes fosse enviado (minhas crônicas) quando o assunto fossem comentários sobre o Brasil. Eles querem me dizer sibilinamente que eu não fale sobre a política que se pratica neste país.

Para encerrar, ainda me acudo de anotações que escrevi em cadernos escolares no Internato do Pedro II, “A política é uma guerra sem derramamento de sangue. E a guerra é uma política com derramamento de sangue” – Mao Tse Tung. Ao que Churchill parafraseou sobre o chinês:

“A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política vezes diversas.”

P.S: Já que citei aqui os verdes anos 50 no Internato do Pedro II (um abraço no colega Jerônimo Moscardo), impossível não verter uma lágrima pela morte da mulher de minha adolescência – Gina Lollobrigida, a Lolô exuberante dos seios fartos e dos decotes generosos.

Inesquecível para minha geração a Lolô de “Pão, Amor e Fantasia”.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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