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A polícia é a grande  ameaça – por Cacau de Brito
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A polícia é a grande ameaça – por Cacau de Brito

Por Cacau de Brito

Itamaraty acompanha denúncia contra PMs por abordagem racista a adolescentes de férias no Rio de Janeiro.

Recentemente, uma ação policial no coração do Rio de Janeiro, no bairro de Ipanema, especificamente na Rua Prudente de Moraes, resultou em uma abordagem truculenta envolvendo quatro turistas internacionais, dos quais três eram negros e um era branco.

O incidente ocorreu quando o grupo de turistas estava na entrada do prédio onde moram os avós de um deles. A polícia, de forma agressiva e já de pistolas em punho, se aproximou e rapidamente os levou para dentro do edifício.

Durante a abordagem, os policiais não verificaram adequadamente a identidade dos turistas e apenas depois perceberam que haviam cometido um erro grave: Os jovens eram filhos de diplomatas que estavam na cidade apenas para turismo. Este incidente não só evidenciou a atitude preconceituosa e agressiva da polícia, mas também destacou um padrão alarmante de discriminação racial.

Para nós, afrodescendentes, esse tipo de situação ocorre diariamente, não apenas aqui no Rio de Janeiro, mas em todo o país, o que é lastimável. É lamentável que, em um país que se orgulha de ser cosmopolita e de ter o Cristo Redentor de braços abertos para todos, independentemente de raça, cor ou religião, episódios de racismo e violência policial ainda ocorram com tanta frequência.

O esvaziamento da cidade do Rio de Janeiro tem se tornado cada vez mais grave, principalmente devido a questões de insegurança, violência, despreparo dos policiais e a falta de projetos eficazes por parte do governo para o nosso Estado. O turismo, que poderia ser uma importante fonte de renda, também tem perdido espaço, tanto nacional quanto internacionalmente, em consequência dessa realidade preocupante.

É imprescindível que a polícia esteja bem-preparada, não apenas para receber turistas, mas também para manter uma convivência saudável com a população local, o que certamente fará uma grande diferença. A aproximação da polícia com a sociedade representa um ganho significativo e é uma necessidade urgente; deve ser um projeto de Estado e não apenas de um governo. Essa proximidade é fundamental para construir uma relação de confiança e respeito mútuo. Somente através dessa parceria a sociedade poderá sentir-se mais segura e amparada.

O caso que narramos logo no começo deste artigo não deverá ficar impune por se tratar de filhos de diplomatas. No entanto, por que os casos do cotidiano também não são tratados assim? O cidadão comum, sem pais influentes, não tem o direito de ser respeitado como o ser humano que é?

O respeito à sua dignidade não pode estar atrelado ao seu status social.

A Constituição assegura que todos são iguais perante a lei, mas isso é uma grande mentira. Deveria ser assim, mas não é, e a cada dia que passa essa realidade se torna mais evidente e urgente. Precisamos corrigir essa injustiça, todo indivíduo tem o direito a ser respeitado.

A formação do policial precisa ser avaliada desde a academia até sua formatura, e não só isso, durante toda a sua permanência na corporação. O dia a dia de um policial é extremamente desgastante e, por isso mesmo, o investimento em sua capacitação e bem-estar precisa ser constante e absoluto; deve ser prioridade.

A saúde do policial é tão importante quanto a de qualquer outro profissional. Para que um policial vá para as ruas, é fundamental que ele esteja 100% preparado, e sua avaliação deve ser contínua; caso contrário, teremos policiais doentes e despreparados para exercer essa importante missão. Políticas estatais de cuidados e atenção com a formação e a saúde física e mental dos policiais são imprescindíveis para a segurança de todos. Um policial bem cuidado é um policial capaz de cuidar bem da sociedade.

A sensação que todos nós que residimos e frequentamos a cidade do Rio temos é que a crise não tem fim. Esse grau de insegurança generalizada é muito ruim para a sociedade fluminense em todos os seus aspectos.

Por fim, o que verdadeiramente falta ao Rio de Janeiro é a efetiva união de todas as autoridades competentes para que, juntas, possam tirar nossa cidade outrora maravilhosa desse terrível abismo. Além da atenção que nossas forças de segurança merecem, é isso que precisamos fazer em outras áreas. Dentre elas, nossa alavanca será o turismo, que se mostra como fonte abundante de empregabilidade tanto para nossa juventude negra quanto para nossos idosos, duas de nossas classes mais marginalizadas.

Já nestas linhas finais, há um simples exemplo que deve ser visto para demonstrar que toda mudança passa por uma boa política: o Aeroporto Internacional do Rio, o Galeão, por anos se encontrava praticamente fechado e sem vida, porém, por meio de um simples gesto de união das autoridades, este se revigorou. Hoje, o Aeroporto Internacional Tom Jobim é um dos corações pulsantes da economia do nosso Estado.

Exatamente como a união trouxe um aeroporto de tamanha complexidade ao seu ápice de atividades, o mesmo pode sim mudar o cenário de nossa cidade, basta apenas vontade, gestão e organização.

CACAU DE BRITO é advogado, escritor, membro da Igreja Batista do Recreio e do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos fundamentais e militância na área dos Direitos Humanos. Foi diretor e coordenador-geral do Procon-RJ, assessor na Secretaria Municipal de Trabalho e Renda – SMTE, no Rio de Janeiro e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ, em duas legislaturas. Fundador da Associação dos Advogados Evangélicos do Rio de Janeiro. Colaborador do Projeto Cristolândia, um programa permanente de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, dirigido pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Fundador e coordenador do Movimento O Rio pede paz e do Fórum da Cidadania do Rio de Janeiro.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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