Por Alcyr Cavalcanti –

Khouri mostra o vazio existencial na noite paulistana.

Walter Hugo Khouri teve uma obra extensa, com 26 filmes e vários roteiros. Influenciado pelos estudos de Filosofia na USP dirigiu “Noite Vazia”, seu filme mais conhecido, indicado para o Festival de Cannes em 1965. Um filme de autor  com roteiro e direção de Khouri e a magnífica fotografia de Rudolf Icsey e trilha musical de Rogério Duprat. O filme de 1964 lançado em plena ditadura militar faz uma crítica aprofundada ao vazio existencial da sociedade burguesa, onde dois rapazes perambulam à esmo por uma metrópole de pedra em busca de algo que venha a preencher o vazio de suas existências. Dois homens alienados da problemática social em um país convulsionado por um Golpe Militar vividos por Mário Benvenutti e Gabriele Tinti percorrem bares, restaurantes em busca do prazer que não conseguem atingir.

Khouri fez um cinema psicológico, intimista profundamente influenciado pela obra de Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman.

Profundamente hedonistas em sua peregrinação conhecem duas jovens prostitutas interpretadas por Odete Lara e Norma Bengell, as duas em plena beleza. Após a noitada tensa sem possibilidade de comunicação, se despedem friamente cada um para suas vidas, os dois homens vão voltar para o vazio absoluto de  seus negócios e as belas mulheres para suas casas depois da rotina de trabalho na noite paulistana. A busca vai continuar noite após noite em uma procura inútil.

As noites vão continuar sempre vazias.

Walter Hugo Khouri foi convidado a dar aulas na Escola Internacional de Cinema e Televisão-EICTV em Cuba, fundada por Gabriel García Márquez e Fernando Birri onde exibiu ‘Noite Vazia’ para os jovens cineastas cubanos.

Khouri era um diretor essencialmente urbano, nascido e criado na metrópole paulistana, faleceu em 2003 na cidade que tão bem retratou, na imensidão do vazio de suas noites.

ALCYR CAVALCANTI – Jornalista profissional e repórter fotográfico, trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo e em agências de notícias internacionais. Bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) e mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.


 

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