Por Ricardo Cravo Albin –
(Título do best-seller de Malu Gaspar).
“Maior que a tristeza de não haver vencido é a tristeza de não haver lutado”. (Rui Barbosa-1849-1923)
Ao menos na minha geração, nada teria eletrizado mais os nossos corações de jovens que a Operação Lava-Jato, considerada a maior iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro em país reconhecidamente frouxo ao roubo de dinheiros públicos. A mão forte da Justiça exercida por Sergio Moro em Curitiba foi antecedida por outro grande brasileiro, o Ministro Joaquim Barbosa, do STF. Os resultados espetaculares, acordaram o país.
A frase acima de Rui Barbosa se dirige, por que não? aos dois citados guerreiros do Brasil, o primeiro retirado de cena por intimidações grotescas, inclusive racismo, e o segundo difamado por quem ajudou a eleger o atual presidente. Que jurava na campanha de pés juntos ampliar a Operação, perigosíssima para a bandidagem da política rançosa a sugar as tetas da exaurida cadela Brasil.
Hoje, todos reconhecemos que o emissário do Presidente para pulverizar a Lava-Jato, o Procurador Geral Aras, foi de eficácia dantesca porque agregou solidariedades de todas as facções contrariadas. À direita, à esquerda, ao centro. E em especial ao Centrão. Pouco a pouco, golpe a golpe, as espadas traiçoeiras do mal contra o bem, dedicaram-se a destruir a aliança entre procuradores jovens da República, a PF e a Justiça Federal. As acusações arguidas pela Procuradoria-Geral da República são consideradas por juristas experimentados bisonhas, quando não risíveis. Nós mesmos engolimos este envenenamento sem sentir dores lancinantes, porque o método genial foi encontrado, o veneno indígena Curare, doce morte em que os envenenados morrem quase a sentir um bem-estar edênico. Quando me dei conta na semana passada que a Lava-Jato estava extinta, acordei. Assustado e indignado. Mas passivo e impotente.
Vale reiterar o que todos sabemos, o acúmulo de originalidades da Operação a ocorrer nesse pântano: a prisão e a responsabilização de pessoas da “mais fina estirpe social, econômica e política”, os chamados Intocáveis da República, enfim nas grades.
O absolutamente inquestionável foi a recuperação de milhões e milhões de dólares para os cofres públicos, em especial os subtraídos da Petrobrás pilhada. Outro orgulho do acerto da Operação, para os ingênuos que preferem os argumentos de conto da carochinha da Procuradoria Geral de que o fulaninho “x” queria promoção pessoal e sicraninho “y” pretendia meter a mão no bestunto repatriado, resta a certeza de que pelo menos 12 nações iniciaram suas próprias investigações, através de acordos internacionais. E os bilhões roubados ao Brasil pela cadeia criminosa, políticos + empreiteiros, foram repatriados. O vexame sublime (como diria Nelson Rodrigues) de as figuras mais proeminentes do país no vil xilindró dos ladravazes de galinhas.
Por incrível que pareça, a operação do desmonte da Lava-Jato foi tão genial que muitos políticos asseguram que os recém-eleitos Presidentes da Câmara e Senado o foram porque dentro de um acordo para se acabar de vez com as Forças Tarefas, cujo nome já foi até extinto pela PG.
Paro por aqui, mas não sem antes transcrever frases icônicas pronunciadas por acusados da roubalheira: “O pagamento de propinas dentro da Petrobras era algo endêmico e institucionalizado” – Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras e delator, sobre o esquema de corrupção montado na estatal.
“A corrupção é praticada há tanto tempo por essas empresas que se tornou um modelo de negócio” – Deltan Dallagnol, procurador, em entrevista.
“Não se chega a diretor da Petrobras sem apoio político. E nenhum partido dá apoio só pelos belos olhos daquela pessoa ou por sua capacidade técnica, sempre tem de ter alguma coisa em troca”. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento, sobre como chegou ao cargo.
“Estou extremamente arrependido de ter feito isso [corrupção]. Se tivesse a oportunidade de fazê-lo, não faria novamente”. Paulo Roberto Costa, em depoimento durante a CPI da Petrobras.
Rui Barbosa, há cem anos, proferiu frase que resume todo esse logro ao Brasil:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin, Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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