Por Jeferson Miola

O bolsonarismo não encara a eleição como um momento democrático superior de expressão da soberania popular. Na realidade, o bolsonarismo captura a rotina institucional da democracia para avançar a guerra fascista contra a própria democracia.

Bolsonaro e as cúpulas militares atacam as instituições e questionam o sistema eleitoral porque, no fundo, não aceitam competir dentro das regras eleitorais e da democracia. Atuam, ao contrário, como falangistas[1] que combatem a democracia e o “sistema”, do qual se dizem “vítimas” [sic].

Em toda a história brasileira, do período colonial aos dias de hoje, nunca se viu o emprego, numa eleição, de uma estrutura poderosa e corrupta como a máquina de guerra antidemocrática do governo militar.

Não fossem as fraquezas da democracia brasileira, emparedada pelas armas, esta verdadeira máquina do crime já teria sido desarticulada por força da Lei e da Constituição. E o registro da chapa militar Bolsonaro/Braga Netto já teria sido cassado.

Dia 30 de outubro acontece a batalha central desta guerra fascista contra a democracia. Não se trata da “batalha final”, mas de uma batalha central para o projeto de poder da extrema-direita.

Bolsonaro e os militares não almejam “simplesmente” conquistar o governo, mas sim usurpar o poder para avançar um regime ultraliberal autoritário e reacionáriona perspectiva da contrarrevolução fascista.

Este regime representaria a ruptura final da Constituição de 1988. Os elementos constitutivos dele já estão postos, foram inclusive anunciados pelos bolsonaristas. A desfiguração da Suprema Corte serviria como abre-alas do processo de desdemocratização para a instalação de uma ordem autoritária e autocrática.

Bolsonaro e os militares sabem que mesmo com toda sua máquina poderosa e criminosa, não conseguirão reverter a tendência de vitória do Lula e da democracia nas urnas. Por isso, estão implantando falsos [e risíveis] pretextos para avacalhar a eleição e tumultuar o país.

Começaram com suspeitas sobre as urnas, passaram para ataques aos institutos de pesquisa e, finalmente, passaram a delirar sobre falsos problemas em relação às inserções de programas da campanha bolsonarista em algumas rádios.

Derrotados nesta que é a batalha central da guerra fascista contra a democracia, Bolsonaro e as cúpulas militares armam a matilha para a continuidade da guerra com novas batalhas encarniçadas. Não darão trégua; nenhum minuto de paz!

É de se supor, pelos movimentos recentes – como a ridícula proposta de adiamento da votação – que infernizarão e incendiarão o país já a partir da noite de domingo, 30 de outubro, em moldes semelhantes ao dantesco ataque da extrema-direita trumpista ao Capitólio, o Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021.

A derrota eleitoral do bolsonarismo está longe de colocar fim ao pesadelo do fascismo e da força da extrema-direita no país.

Mas a vitória do Lula, por outro lado, representará a conquista de condições políticas e de poder de Estado, assim como de capacidade de iniciativa popular, para contra-arrestar o fascismo e abrir um período – complexo, longo e desafiador – de restauração da democracia para a salvação nacional.

[1] Falangista: membro de falange. Falange, segundo dicionário Houaiss: “organização política espanhola inspirada no fascismo italiano”; “grupo marginal que atua organizadamente na sociedade para fins ilícitos”.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

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