Por Daniel Mazola

O Dia Internacional dos Trabalhadores, historicamente nos cinco continentes, sempre foi o dia de erguer as bandeiras de luta contra a exploração e a agressão imperialista.

Tudo começou em 1886, quando grandiosas batalhas operárias ocorreram em Chicago, nos Estados Unidos, pelo direito a 8 horas de trabalho, 8 horas de repouso e 8 horas para outras atividades.

Conscientes da realidade, trabalhadores sofreram com o aparato repressivo do Estado Autoritário de Direito que reprimiu aquela luta violentamente e, após uma farsa de julgamento, condenou e enforcou os dirigentes operários Adolph Ficher, Albert Parsons, August Spies e George Engel (fotos abaixo).

Michael Schwab, Oscar Neebe e Samuel Fielden, foram condenados à prisão perpétua, mas libertados anos depois devido a enorme pressão popular. O trabalhador Louis Lingg não teve a mesma sorte e morreu na prisão (fotos acima).

Recordar é viver e reafirmar a luta. Segundo o historiador, arquivista e escritor Edgar Rodrigues: “O 1º de Maio de 1919 foi uma manifestação sem precedentes no Rio de Janeiro. A polícia e o governo ficaram preocupados seriamente. Na Avenida Rio Branco, cheia desde a Praça Mauá até a Praça Floriano Peixoto, havia várias tribunas, onde oradores anarquistas defendiam as suas doutrinas sociais, sem o menor constrangimento. Essa grande massa humana, ao longo da Avenida, dava vivas à liberdade e à igualdade. Como a polícia limitou-se, apenas, a observar sem nenhuma interferência ou restrição, as manifestações terminaram em paz. Floresciam, então, as associações operárias. A polícia fechara a Federação (Operária), mas havia o Centro Cosmopolita, a União dos Tecelões, a União dos Operários em Construção Civil, a dos Sapateiros, as duas últimas na Praça da República 45.”

Comício de 1º de Maio de 1919, na Cinelândia, Rio de Janeiro (Reprodução)

Hoje, no Brasil, segundo o sociólogo Fausto Augusto Júnior, diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), desemprego e queda na renda são os legados da pandemia. Para ele o que vemos é a desestruturação do mercado de trabalho, ampliação do mercado informal e desorganização do mercado formal. Hoje, os formais estão numa situação mais complexa, com mais formas de contratação que atingem a estabilidade financeira. Os empregos que começam a aparecer agora são empregos com menos direitos.

Avançou no Brasil o conceito de que o trabalhador deve ter menos direitos e piores condições de trabalho. Como jornalista que atua e atuou em federações, sindicatos e associações da sociedade civil organizada, observo que essas reformas neoliberais buscaram enfraquecer o poder de barganha dos trabalhadores e reduzir o custo do trabalho.

Para Fausto Augusto Júnior, a reforma trabalhista foi também sindical, com o objetivo de enfraquecer as representações coletivas dos trabalhadores. “A questão não é só o fim do Imposto Sindical, é não ter criado nenhuma transição para outro modelo. A reforma trabalhista também quebra o monopólio da negociação, o que é grave quando lembramos que as negociações coletivas são mais efetivas, protegem mais o trabalhador. Por não haver nenhuma garantia contra demissões, não existe a possibilidade de negociação individual“.

Mas o diretor do Dieese avalia que o movimento sindical sobrevive. “Havia temores quanto à isso, por causa do fim do Imposto Sindical. Mas ele continua relevante. Em 2020 foram mais de 11 mil negociações coletivas ligadas a reajustes salariais e mais de 36 mil negociações em diversos temas. 90% dos sindicatos do setor privado negociaram, ainda é um setor pujante. O processo de reorganização sindical vai continuar ocorrendo, como mostra nossa História. O que preocupa é o movimento do atual governo de buscar enfraquecer as organizações coletivas, especialmente os sindicatos. E é prioritário que continuem a batalhar no Parlamento, pois os direitos constitucionais não devem ser só pra quem tem carteira assinada, mas para todos os trabalhadores“.

A massa de trabalhadores também precisa ficar muito atenta com a chamada “uberização”, mais uma faceta da informalidade, segundo advogados sindicais o que essas grandes companhias multinacionais baseadas em aplicativos estão fazendo é fraudar a legislação trabalhista.

O IBGE divulgou nesta sexta-feira (30), véspera do Dia Internacional dos Trabalhadores, que o número de desempregados no Brasil foi estimado em 14,4 milhões no trimestre encerrado em fevereiro, o maior contingente desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). O resultado representa uma alta de 2,9%, ou de mais 400 mil pessoas desocupadas frente ao trimestre anterior (setembro a novembro de 2020), ocasião em que a desocupação foi estimada em 14,0 milhões de pessoas.

Diante de tantos desafios, saúdo vigorosamente as trabalhadoras e os trabalhadores do Brasil e do Mundo, é 1º de Maio, não esqueçam, dia de combate e resistência!


DANIEL MAZOLA – Jornalista profissional (MTE 23.957/RJ); Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional; Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil; Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio); Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Conselheiro Efetivo da ABI (2004/2017); Foi vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/2013).